Março 2021 | Por: Tiago F. Silva
“The Champions!!”
Dá arrepios só de ouvir aquela música.
Os melhores dos melhores, ali, no palco maior do futebol.
Mas, será mesmo assim?
Bom, em parte.
Se é certo que estão presentes os campeões das várias ligas europeias, também é verdade que o número de equipas aumentou bastante desde os primórdios da prova.
Atualmente, a competição maior da UEFA alberga 32 equipas, com espaço alargado para emblemas provenientes de países mais bem classificados no ranking.
Como parte de uma indústria em constante mudança, a Liga dos Campeões foi sendo adaptada às necessidades que os tempos exigiam e tornou-se quase um imperativo na gestão de muitos dos participantes.
Além do prestígio e de uma quase imortalidade no mundo do futebol, com o passar dos anos tornou-se cada vez mais evidente também a considerável receita que advém da participação na prova e o peso que esta acaba por ter na gestão dos seus participantes.
Nesse sentido, foi-se assistindo a diferentes moldagens da competição, tanto desportivas como financeiras, a fim de ir ao encontro de uma ou outra solicitação.
Convém não esquecer que muitas delas partiram das próprias associações de clubes sob a égide da UEFA, como a Associação de Ligas Europeias (European Leagues) ou a Associação de Clubes Europeus (ECA). Pode falar-se, portanto, numa espécie de evolução controlada e consentida pelos próprios agentes.
Por falar nestas, começamos precisamente por aqui, para falar de mais uma revolução que se avizinha na Champions.
Uma Liga cada vez mais milionária
Há algum tempo que a notícia se espalhou um pouco por toda a Europa, mas ganha contornos cada vez mais definitivos. A UEFA está a trabalhar num novo formato da Champions, que entrará em vigor já a partir de 2024.
De acordo com os últimos relatos, está a ser analisado um aumento de 32 para 36 equipas numa liga única, em que cada equipa disputa dez jogos contra adversários equilibrados na primeira fase, baseado no ranking das equipas.
Os oito primeiros classificados avançariam para a fase seguinte enquanto os 16 seguintes disputariam uma eliminatória a duas mãos para completar o lote de apurados.
Para as quatro novas vagas há quem defenda que duas delas devem ser de acordo com a classificação no ranking ou histórico das equipas. Outros há que exigem que sejam recompensados os clubes fora das principais ligas.
Ora, pegamos então na European Leagues e na ECA para lhe dizer que os organismos também já tiveram oportunidade de analisar as medidas em estudo e rebateram algumas.
Assume a ECA que preferia ver as equipas disputar oito jogos numa primeira fase em vez de dez, o que significaria um aumento de 64 jogos em vez dos possíveis 100 com o novo modelo.
Em termos práticos, o que significaria isto?
Possivelmente um aumento nas receitas de transmissão televisiva. Pelo menos é nisso que a UEFA acredita e já o expressou, nas palavras do secretário-geral, Theodore Theodoridis.
Mas isso poderá levantar um grande problema, por outro lado.
A manta que não estica
A ideia da UEFA parece ter colhido elogios em toda a linha, porém houve já uma preocupação lançada pela European Leagues, que, embora considere a proposta “inovadora e atraente”, alertou para a necessidade de se proteger também as ligas nacionais.
E porquê? Em primeiro lugar, porque as equipas participantes terão um notório aumento de jogos por época. Segundo, e para alguns a mais relevante, porque o novo modelo da Champions pode vir a retirar espaço e receitas às competições nacionais.
Se o grande “jackpot” residir na nova competição, os players poderão reservar o direito de investir a maioria das fichas na Champions, ao invés de apostar nas competições nacionais. A manta não estica e poderá abrir-se um precedente complicado, pensarão muitos.
Ainda no capítulo financeiro, também a distribuição de prémios tem sido alvo de discussão. No caso da Associação de Ligas Europeias, a posição que defende prende-se com a redução da diferença para os clubes que não se qualificam para as competições europeias, alertando para a necessidade de um equilíbrio entre as competições nacionais e as europeias.
Conclusões há poucas, mas parece ser este último ponto o mais essencial de todos.
Garantindo um equilíbrio entre competições nacionais e europeias, esta nova Champions parece de facto um projeto interessante e inovador, embora, sublinhe-se, ainda haja muitas arestas para limar.
Todas estas opções continuarão a ser discutidas, pelo menos durante mais algum tempo, mas as previsões apontam para que a decisão final seja conhecida em abril.
Até lá, muita tinta vai correr e não é para menos. Afinal de contas, trata-se do maior palco do mundo do futebol e as atenções estarão voltadas para o que se seguirá, pelo que todos os detalhes têm de ser pensados ao pormenor.
Bom, todos menos a música. Até ver, essa permanecerá assim, arrepiante.