Sente-se, instale-se e transponha a realidade. Bem-vindos ao metaverse!

Março 2022 | Por: Tiago F. Silva

E se, de repente, pudesse participar num jogo de futebol a sério, mas sem sair do sofá? E se pudesse ser parte ativa em algumas das decisões internas do seu clube? E se as vitórias deixassem de ser morais apenas e ganhassem uma dimensão real e literal?

A resposta a estas e outras perguntas está mesmo aí, ao virar da esquina.

O futebol prepara-se para abraçar aquela que já é considerada a maior revolução de sempre na sua indústria. O metaverse.

De forma muito sucinta, é a terminologia utilizada para indicar um tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais.

A evolução tecnológica, por si só, foi decisiva para o crescimento da indústria, fortalecendo-a praticamente em todas as vertentes, mas a implementação do metaverse promete ser de outra dimensão, literalmente.

Numa espécie de mundo paralelo, inteiramente virtual, o adepto mergulha numa experiência criada propositadamente para o efeito e tem a oportunidade de usufruir de uma panóplia de interações através do seu avatar, cabendo aos clubes a tarefa de providenciar essa plataforma virtual e as respetivas experiências.

Demasiada ficção científica, porventura, mas é essa a revolução que está prestes a irromper, prometendo dar ao adepto um papel nunca antes experienciado na indústria, ao mesmo tempo que abre novas janelas de oportunidade aos clubes, permitindo a monetização dessas experiências e a construção de uma fonte de receita adicional.

E são já vários os clubes a querer fazer parte desta indústria do metaverse, numa perspetiva de rentabilização, naturalmente, mas também de engajamento de novos públicos.


Os primeiros passos de um novo futebol

Um dos acordos mais mediáticos envolveu Manchester City e Sony, muito recentemente. Os citizens anunciaram a criação de uma versão digital do Etihad Stadium, prometendo que o seu estádio seria completamente mapeado para ser lançado em realidade virtual, em tamanho original e com as devidas proporções mantidas.

A ideia passa por recriar todos os assentos, arquitetura e até o relvado do estádio, para ser compatível com óculos de realidade virtual. Dessa forma, adeptos de todo o mundo poderiam assistir aos jogos ao vivo, no conforto das suas casas, como se estivessem no próprio estádio.

Do outro lado, os representantes do clube inglês dizem acreditar que será possível reproduzir uma experiência virtual muito parecida com a real, com a vantagem de se conseguir ver jogos de diferentes ângulos, com som ambiente e cânticos dos adeptos.

Além disso, com o virtual não haveria limitação de público ou custos com a segurança do mesmo, alargando as fontes de receita e ameninado potenciais quedas de bilhética, motivadas por um qualquer fenómeno, como aconteceu com a pandemia.

Mediante o sucesso deste conceito de estádio virtual, é provável que outros clubes sigam o caminho do City, sobretudo emblemas de dimensão mundial, uma vez que poderá permitir conquistar e aproximar adeptos de outros continentes, combatendo também o afastamento que se verifica nas gerações mais novas e o desinteresse por um jogo de futebol que é consumido fugazmente pela maioria.

O que torna o metaverse tão interessante, no caso do futebol e do desporto em geral, é que ele pode até existir, mas depende, necessariamente, do mundo real para poder ser bem-sucedido, criando uma experiência emotiva e emergente em torno do fenómeno.


Quando real e virtual se misturam para gerar receita

O metaverse abre uma porta para a monetização de outros fatores até agora pouco explorados, entre os quais a “big data”, a informação que pode ser recolhida através da interação mais direta entre o clube e o adepto. Existindo mais informação detalhada sobre o adepto, é possível gerar uma interação direta entre as entidades desportivas e os fãs, criando outras oportunidades de monetização.

Os tokens são produto dessa interação. Criados para ser um meio do adepto estar mais próximo e apoiar remotamente, os tokens permitem que uma pessoa em qualquer parte do mundo possa conectar-se com o clube ou com o jogador que gosta, permitindo à entidade desportiva poder recolher os dados dessas pessoas.

Em contrapartida, muitos clubes estão também a atribuir alguns “poderes” aos detentores destes tokens, como por exemplo serem detentores de parte do clube no mundo real ou ter direito a uma percentagem do passe de um jogador formado no clube, mas também decidir o terceiro equipamento, a música com que a equipa entre em campo ou a cor do autocarro.

Há ainda os NFT’s, (Non-Fungible Token), uma espécie de certificados de posse de algo, que podem vir a ganhar cada vez mais expressão no metaverse do futebol.

Comercializados num mercado com muita especulação, os NFT’s alargam a monetização a património como o arquivo de um clube, até aqui pouco ou nada aproveitado. Fotografias, vídeos, golos memoráveis, fintas de outro mundo, artigos de jogadores emblemáticos, entre outros registos de arquivo, podem ser autenticados e adquiridos pelos adeptos, gerando outras fontes de receita para o clube.

No meio de tantas experiências (e alguma polémica), há uma certeza: o metaverse só será o futuro do futebol, se for usado como complemento da experiência do mundo real. É nesse misto dos dois mundos que reside o possível sucesso deste conceito, pelo que, quem conseguir antecipar-se e fazer esse movimento estará, sem dúvida, um passo mais próximo do adepto.

Importa entender, por isso, que o futuro não é meramente o digital, mas antes a junção do real com o virtual, gerando ainda mais sentimento de pertença.

O metaverse não é o futuro do desporto, mas o caminho para o aproximar do público.