As camisolas que andam a arruinar festejos de golo

Outubro 2021 | Por: Tiago F. Silva

Há quem lhes chame segunda pele, outros até manto sagrado.

Os equipamentos de clubes tornaram-se num dos produtos de merchandising mais rentáveis de que há memória.

As vendas de camisolas têm um peso bastante significativo no exercício financeiro dos clubes, não apenas pela receita gerada diretamente, mas também pela indireta.

É inegável que se tornaram mais do que meros acessórios de moda ou ícones de fanatismo.

São portas de entrada para algumas marcas e patrocínios, ao mesmo tempo que oferecem depois a montra necessária para a rentabilização desses contratos e parcerias.

Parece consensual a ideia de que a maioria dos adeptos não gosta de grandes alterações, mas é importante recordar que existem contratos a cumprir e receitas provenientes dos mesmos.

A questão que colocamos neste artigo é a seguinte: qual o limite do razoável para eventuais alterações nos equipamentos?

Provavelmente acha que não faz sentido debater o assunto, mas nunca foi tão pertinente como agora.

Que o digam os adeptos de vários clubes europeus.

Manchester City, Borussia Dortmund, Milan, Valência ou Marselha são apenas alguns dos clubes visados, numa das mais estranhas polémicas envolvendo clubes e marcas.

 

As camisolas que irritam adeptos e baralham jogadores

Na já habitual apresentação dos novos equipamentos, que costuma anteceder qualquer nova temporada de futebol, algumas das camisolas tornaram-se virais, mas não pelos bons motivos.

Muito pelo contrário.

A PUMA resolveu “reescrever as regras” e apresentou terceiros equipamentos de vários clubes sem o tradicional emblema do clube inscrito.

A marca substituiu o habitual escudo no peito pelo nome do clube por cima da referência ao patrocinador. O escudo, nessas camisolas, passou a estar como padrão de fundo.

Em contrapartida, o escudo da própria marca ficou bastante mais visível, graças a uma posição mais centralizada na camisola, algo que desagradou também aos adeptos.

Quase de forma instantânea, muitos acorreram às redes sociais para manifestar revolta com a escolha da marca, colocando também em cheque a posição assumida pelos próprios clubes, numa clara mostra de que ninguém ganhou com a suposta inovação no design.

E o curioso é perceber que a escolha não afetou apenas os adeptos.

A mudança nos equipamentos gerou também alguma confusão junto dos próprios jogadores.

Muhammed Gumuskaya, jogador do Fenerbahçe, apercebeu-se à força das alterações quando, no momento de festejar um golo, quis beijar o símbolo ao peito e não o encontrou.

A esse episódio, saído de um jogo dos play-off da Liga Europa, somou-se um outro, numa partida da Liga dos Campeões.

Decorria o embate entre Borussia Dortmund e Besiktas, quando as redes sociais foram invadidas por comentários de revolta por parte dos adeptos do clube alemão.

Tudo porque, para além do símbolo inexistente, como já referimos, a cor do equipamento omitia também o símbolo do clube em padrão de fundo.

A consternação foi tanta, que as reações oficiais acabaram por surgir.

 

O erro crasso que nem as desculpas corrigem

A onda de revolta dos adeptos do Borussia Dortmund, com réplica noutros tantos, obrigou a remexer no assunto, mas desta vez de forma assertiva.

Na sequência dos protestos, o diretor geral do clube germânico decidiu assumir uma posição, colocando-se ao lado dos adeptos.

“As críticas à camisola da nova temporada já foram recebidas. Um equipamento é algo que pode sempre polarizar opiniões e levamos muito a sério as opiniões dos adeptos”, referiu Carsten Cramer.

Em virtude dessa posição (ou não), a PUMA viu-se também forçada a intervir e apresentou um pedido de desculpas.

“Pedimos desculpa pela frustração causada e gostaríamos de nos desculpar. Levámos todos os comentários muito a sério e teremos a situação em conta quando desenharmos os futuros equipamentos”, revelou a marca.

Portanto, em resposta à pergunta inicial.

Um erro crasso, com contornos caricatos e que em nada contribuiu para o futebol.

Se é inegável que os clubes e as marcas têm de investir em novas estratégias de promoção e rentabilização das suas parcerias, potenciar autênticas revoluções nos equipamentos parece ser uma escolha a evitar. Pelo menos até ser pensado de forma sustentada.

Na indústria do futebol ainda há muito por explorar, mas a marca alemã aprendeu a custo que nem tudo é passível de ser explorado, muito menos sob um prisma meramente económico.

Resta agora saber quais as repercussões futuras desta escolha, que se revelou errada, e também que ilações retiraram as marcas, sabendo que competem numa indústria onde este tipo de desvios tem custos demasiado elevados para as mesma.