Abril 2021 | Nuno Aguiar-Branco & Tiago F. Silva
É uma das personalidades mais conhecidas da rádio portuguesa e uma das vozes que nem o confinamento foi capaz de silenciar. Como animador na RFM e no programa “Wi-Fi”, Daniel Fontoura é companhia diária de milhares de portugueses, mas o seu contributo estende-se também à televisão, como comentador na Sport TV. Desta vez, fez companhia também à STAR, numa conversa animada, como não podia deixar de ser. Vivências de 20 anos de rádio e de mais uns quantos de ligação pessoal e profissional ao futebol, com direito até a antevisão para o Europeu.
STAR – Fale-nos um pouco do seu percurso profissional até hoje, porque, segundo parece, acabou por seguir um rumo diferente do académico.
DANIEL FONTOURA – É verdade, foi tudo um pouco por acaso. Sempre fui comunicativo. No final do 12º ano pensei seguir Comunicação Social. Tentei entrar na universidade pública, mas não tive média para isso e, ao invés de ir para fora, tentei ficar pelo Porto. Achei piada ao curso de Turismo e estive no ISAG durante 5 anos. Não acabei, porque, no final do primeiro ano, surgiu um casting para a Mega FM (atual Mega Hits). O anúncio até foi feito pela RFM, curiosamente. Tinha zero experiência de rádio, estudava e trabalhava numa empresa que fazia karaoke, mas soube que iam abrir uma frequência no Porto e mandei currículo, porque sempre gostei da área da comunicação. Eram cerca de 380 pessoas na primeira fase, na segunda reduziram para 11 e no final escolheram 4 pessoas. Não fui selecionado, segui a minha vida, mas cerca de dois meses depois informaram-me que tinha havido uma desistência e gostavam que fosse estagiar para Lisboa. Ligaram-me num sábado para começar o estágio na segunda-feira seguinte. Fui trabalhar nessa noite e segui para Lisboa, estagiar durante 15 dias na Mega FM. Tinha então 19 anos. Voltei para o Porto, estivemos cerca de um ano a fazer emissões de teste e a nossa formação, antes de começarmos as emissões regulares. Estive então 4 anos em part-time na rádio, conciliando com os estudos. Mudei depois para o curso de Ciências da Comunicação na UTAD, mas foi para o “galheiro”, porque, nessa mesma altura, passei a trabalhar em full-time na rádio. Em 2015, dei uma alegria à minha mãe, voltei a estudar, e tirei a licenciatura em Gestão do Lazer e Animação Turística na ESHTE. Comecei aos 33 anos, e até tirei boas notas. Entretanto, faço já 20 anos de rádio em setembro. Nem gosto de fazer estas contas, sinto-me velho (risos). Mas o que gostava mesmo era de cantar. Quem sabe, poderá acontecer um dia.
STAR – Houve alguém que lhe tenha servido de referência, na altura que decidiu enveredar por uma carreira nos Media?
DF – Como disse, a rádio surgiu um pouco por acaso. Foi ela que me encontrou a mim. Mas, se pensar bem, já ouvia muito o António Sala, porque os meus avós ouviam e também me recordo do “Jogo da Mala”, com ele e com a Olga Cardoso. Sempre tive essa referência e depois fui ganhando as minhas. O Nelson Cunha era referência, enquanto animador. A Sónia Santos também. Sabiam e sabem o que fazem e são referências importantes para o trabalho que desenvolvi na rádio. O João Chaves do Oceano Pacífico também, embora seja um estilo diferente. Achava imensa piada ao Fernando Alvim, quando fazia o “Terminal do Engate”, na Rádio Nova Era. Lá fora, o Ryan Seacrest e o Elvis Duran. Todas estas referências ajudam-nos a construir o nosso próprio estilo. E, já que falámos no Oceano Pacífico, recentemente tive oportunidade de fazer este programa mítico durante uma semana e foi uma responsabilidade enorme, um dos pontos altos da minha carreira na rádio.
STAR – Quando surgiu o gosto pelo futebol na sua vida?
DF – Desde sempre. Tinha dois tios fanáticos por futebol, ferrenhos pelo FC Porto e passava muito tempo com eles. Nos aniversários, as minhas prendas eram, muitas vezes, aqueles pratinhos do FC Porto e coisas desse género. Em 1987, quando o FC Porto foi campeão europeu, lembro-me de todos estarem numa excitação, lembro-me de querer ir com os meus tios festejar para os Aliados. A minha mãe é que não aprovou. Um miúdo de cinco anos ali não era fixe, com certeza que os meus tios não iam festejar da mesma maneira (risos). Lembro-me que, nas paredes dos quartos, eles tinham as fotos que saíam no jornal, emolduradas, com as equipas do FC Porto vencedoras. Já mais velho, andei à caça de autógrafos nos treinos do FC Porto, mas consegui o do Aloísio no McDonald’s do Carrefour em Gaia. Ele foi cinco estrelas, pousou o tabuleiro, deu o autógrafo, e claro, para mim, foi uma emoção muito grande. Via jogos com amigos e lembro-me de algumas aulas de português, as primeiras de segunda-feira, que eram verdadeiras tertúlias sobre futebol (risos). O futebol sempre esteve ligado à minha vida. Há uns anos, surgiu a oportunidade de ser “speaker”. Um amigo, que é “speaker” na FPF, ligou-me a dizer que precisavam de um em Lisboa e passei a ser “speaker” do Estoril Praia (durante 3 anos) e também na FPF, fazendo eventos de futebol em vários escalões, futsal e futebol de praia. Anunciei Portugal como campeão do Mundo de Futebol de Praia, em Espinho, o que foi bastante espetacular.
STAR – E em que ponto entrou a Sport TV nessa história?
DF – Como gosto de futebol e estou sempre a defender o FC Porto, o meu colega da RFM José Coimbra (uma das vozes oficiais da Sport TV), sugeriu o meu nome quando lhe perguntaram se conhecia adeptos do FC Porto em Lisboa. Surgiu depois o convite formal e passei a defender as cores do FC Porto na Sport TV. A partir daí, comecei a ficar ainda mais envolvido com tudo o que seja futebol, sobretudo do FC Porto, porque, a partir desse momento, fiquei com uma responsabilidade acrescida. Uma coisa é defender o clube num grupo de amigos, outra é defender o clube numa televisão vista por milhares de pessoas. Mas é perfeito, primeiro porque já tenho desculpa para a mulher me deixar ver jogos em casa tranquilamente (risos), por ser trabalho, depois porque ainda me pagam para fazer isso.
STAR – Como é o dia-a-dia de um animador de rádio e de que forma consegue conciliar isso com o comentário desportivo?
DF – Em altura de pandemia é diferente, porque passamos mais tempo em casa a pesquisar e a preparar o programa da rádio. As pessoas julgam que são duas ou três horas de programa, dizemos meia dúzia de parvoíces e vamos para casa. Mas não é assim. Temos um trabalho normal, às vezes mais de 8 horas de trabalho. Podem não ser seguidas, mas não conseguimos desligar. Eu não consigo, acho que tenho fobia de perder alguma coisa. Se estiver nas redes sociais e vir algo que se pode aproveitar para o programa, uso isso. Parece diversão para as outras pessoas, mas estou muitas vezes nas redes sociais, à procura de conteúdos para o meu programa. A verdade é que, quando ligamos o microfone, antes de passar uma música, as pessoas vão gostar de saber alguma notícia sobre aquele artista. É preciso estar informado, para lhes dar essa informação. Esse trabalho é grande, até porque é muito fácil encontrar informações na internet, difícil é escolher as que interessam e as que serão apresentadas ao público. Não é só abrir o microfone e dizer as coisas que nos vêm à cabeça, é preciso dar informação de qualidade também. Quando recebemos convidados, por exemplo, é preciso pesquisar informações sobre eles. Hoje é bem mais fácil recolher informações do que era há uns anos, quando não havia internet. Se quiser, por exemplo, falar sobre o que o Justin Timberlake fez, cinco minutos antes de entrar “no ar” posso ir ao Instagram dele ver o que ele anda a fazer. Há 15 ou 20 anos, era preciso esperar que saísse uma notícia sobre ele num jornal, ou revista. No meio disto, e aproveitando que estou atento às notícias que saem na internet, uso ainda algum tempo para pesquisar coisas sobre o meu clube, o que também é importante claro.
STAR – Alguma vez sentiu que a questão do “clubismo” no comentário desportivo teve efeitos no seu quotidiano profissional?
DF – Há sempre quem não perceba e misture as coisas, mas tento sempre separar as águas. Uma coisa é o meu trabalho enquanto locutor de rádio, outra é o meu trabalho enquanto comentador. Sei que por vezes posso não conseguir totalmente, sou humano também tenho as minhas falhas, mas tento sempre. Assumo que ser adepto do FC Porto é uma das características da “persona” que tenho no ar, mas não é por isso que deixo de dar os parabéns a outros clubes quando se justifica. É claro que há quem não perceba e “haters” há em todo o lado, mas nunca tive muitos comentários negativos, nem nunca fui julgado por causa disso. Há um “fair-play” enorme da parte dos ouvintes, a maior parte das pessoas sabe distinguir as coisas, e não há assim tantos fanáticos quanto isso. Podem ser os mais ruidosos, mas não é a maioria das pessoas. Acho que também colhemos o que semeamos. Se formos agressivos e desrespeitosos, recebemos o mesmo de volta. Tento ser o mais correto possível. É preciso ser empático, perceber o lado da outra pessoa e os outros gostos. Por exemplo, não é por termos gostos diferentes na música que nos vamos pegar à batatada. No futebol é igual, basta que haja empatia e compreensão para com o outro. Enquanto comentador também nunca fui contactado por ninguém da estrutura do FC Porto, embora ninguém acredite nisto, nem mesmo alguns amigos (risos). Não há mesmo qualquer condicionante, sou completamente livre, digo o que me apetece e procuro falar da visão que tenho de e para o clube.
STAR – Imaginemos o seguinte cenário. É host de um espaço sobre futebol, em rádio ou TV, e tem a oportunidade de escolher 4 personalidades do futebol. Quais escolheria para bater umas bolas?
DF – Já que posso escolher, serei completamente parcial (risos). Gostava muito de juntar e falar de futebol com Pinto da Costa, Cristiano Ronaldo, José Mourinho e João Pinto. Pinto da Costa por ser o maior presidente do futebol mundial, que já viveu coisas que nenhum de nós imagina e está à frente do FC Porto há imensos anos, com imenso sucesso. Cristiano Ronaldo porque é o Melhor do Mundo e seria interessante pô-lo a falar com o Pinto da Costa na mesma sala. José Mourinho, porque é um dos melhores treinadores de sempre e deu muitas alegrias aos portistas. Tem experiência em diversos campeonatos e em diversas equipas, com altos e baixos. Já passou por tudo e seria muito interessante colocá-lo lá no meio. Por fim, o João Pinto, o eterno capitão do FC Porto, só por ser uma figura espetacular e um jogador mítico do futebol português. Eu ficaria ali a lançar o pânico e eles falariam entre si. Juntávamos estas personagens todas comigo e tínhamos aqui um programa líder de audiências (risos).
STAR – Esta época tem sido atípica, tal como a anterior, em virtude da conjuntura pandémica. Apesar da imprevisibilidade que este fator incute, consegue fazer-nos uma curta análise à performance de cada um dos três “grandes”?
DF – Estou surpreendido com o Sporting. Ninguém pode dizer o contrário, nem mesmo os sportinguistas. Vários pontos de avanço e invicto, ninguém esperaria. Tem aproveitado bem os desaires dos rivais durante o campeonato e o facto de não estar nas competições europeias foi uma ajuda, sobretudo numa altura em que havia jogos regulares na europa. Concentrou-se no campeonato, teve tempo para trabalhar e não esquecer que o Rúben Amorim começou a preparar a equipa meio ano antes dos outros. Além disso, contratou bem, já não foram os tiros nos pés que se verificavam nos outros anos no que diz respeito a jogadores. O treinador soube organizar bem a equipa, retirou toda a pressão dos jogadores e continua a fazê-lo. Muitos são jogadores jovens, não estavam habituados à pressão de discutir um título e, desta maneira, conseguiu protegê-los. A meu ver, o facto de não haver adeptos nos estádios também ajudou os jogadores a estarem mais à vontade. O Benfica entrou um pouco sobranceiro. A estrutura achou que já estava ganho que era um passeio no parque. Não foi, porque os outros também estavam mais fortes e queriam lutar. Desde o desaire na Liga dos Campeões, parecem ter tido dificuldades em encontrar-se e foi difícil equilibrar as peças e pôr a equipa a jogar à maneira do Jesus. O Covid-19 foi mau, mas para todos. O FC Porto apostou muito na Liga dos Campeões, tinha de apostar pelo facto de estar sob o fair-play financeiro da UEFA e de ter outras obrigações. Tinha de passar a fase de grupos e empenhou-se ao máximo nesses jogos. Acho que depois não conseguiu gerir tão bem o esforço e o rendimento dos jogadores nos jogos internos. Houve dois FC Porto, um na Liga NOS e outro na Champions. Ainda assim, o primeiro lugar, sendo difícil, é possível. Creio que as equipas estão no lugar que merecem, pelo que têm feito ao longo do campeonato.
STAR – Em ano de Europeu de Futebol e em jeito de antevisão, como observa o potencial/expectativa que é atribuído à seleção portuguesa e qual o jogador que acha que poderá ser uma revelação na equipa portuguesa?
DF – Somos candidatos porque já ganhámos um e ainda somos os campeões em título. Podemos aspirar ao segundo título europeu, porque a equipa não mudou assim tanto, continua a ter uma boa base e o Melhor do Mundo. Há jogadores que estou curioso para ver. Tirando o Cristiano Ronaldo, que vai querer sempre ganhar e dar tudo, quero ver sobretudo Rúben Dias, Bruno Fernandes, Ruben Neves, que aprecio bastante, e ainda André Silva, que está numa forma espetacular e quero ver como funcionará na frente com o Ronaldo ou com outros. Há tanta qualidade nos jogadores portugueses que deixar alguém de fora é ingrato. Nas laterais, acho que Ricardo Pereira ou Manafá poderiam ser hipótese. Felizmente há imenso por onde escolher. Dor de cabeça para o Fernando Santos, mas é bom ser assim.
STAR – Qual foi o jogador ou jogadores que mais o marcaram e o fizeram apaixonar pelo futebol desde novo? O que o deslumbrava mais?
DF – Fiquei estupefacto com a magia do Madjer. Aquele calcanhar não era uma coisa que se visse todos os dias ou em qualquer jogo, quanto mais num jogo decisivo. Mas, citando Carlos Tê, voar como o Jardel sobre os centrais. O Mário Jardel era fenomenal. Eu era mais puto e acho que todos sonhávamos em jogar como ele um dia. Víamos que o homem deslizava no relvado, marcava golos de qualquer maneira e era incrível. Sempre gostei do Vítor Baía também, porque era um jogador com muita classe e carisma. Quando jogava à bola e ia à baliza, imaginava que era muitas vezes o Baía e defendia da mesma forma. Depois o Deco. Vê-lo jogar e com a bola nos pés até parecia batota. Era quase como ser mestre no FIFA e jogar no “easy mode” com um jogador que era “hard” (risos). Era demasiado bom.
É uma das personalidades mais conhecidas da rádio portuguesa e uma das vozes que nem o confinamento foi capaz de silenciar. Como animador na RFM e no programa “Wi-Fi”, Daniel Fontoura é companhia diária de milhares de portugueses, mas o seu contributo estende-se também à televisão, como comentador na Sport TV. Desta vez, fez companhia também à STAR, numa conversa animada, como não podia deixar de ser. Vivências de 20 anos de rádio e de mais uns quantos de ligação pessoal e profissional ao futebol, com direito até a antevisão para o Europeu.
STAR – Fale-nos um pouco do seu percurso profissional até hoje, porque, segundo parece, acabou por seguir um rumo diferente do académico.
DANIEL FONTOURA – É verdade, foi tudo um pouco por acaso. Sempre fui comunicativo. No final do 12º ano pensei seguir Comunicação Social. Tentei entrar na universidade pública, mas não tive média para isso e, ao invés de ir para fora, tentei ficar pelo Porto. Achei piada ao curso de Turismo e estive no ISAG durante 5 anos. Não acabei, porque, no final do primeiro ano, surgiu um casting para a Mega FM (atual Mega Hits). O anúncio até foi feito pela RFM, curiosamente. Tinha zero experiência de rádio, estudava e trabalhava numa empresa que fazia karaoke, mas soube que iam abrir uma frequência no Porto e mandei currículo, porque sempre gostei da área da comunicação. Eram cerca de 380 pessoas na primeira fase, na segunda reduziram para 11 e no final escolheram 4 pessoas. Não fui selecionado, segui a minha vida, mas cerca de dois meses depois informaram-me que tinha havido uma desistência e gostavam que fosse estagiar para Lisboa. Ligaram-me num sábado para começar o estágio na segunda-feira seguinte. Fui trabalhar nessa noite e segui para Lisboa, estagiar durante 15 dias na Mega FM. Tinha então 19 anos. Voltei para o Porto, estivemos cerca de um ano a fazer emissões de teste e a nossa formação, antes de começarmos as emissões regulares. Estive então 4 anos em part-time na rádio, conciliando com os estudos. Mudei depois para o curso de Ciências da Comunicação na UTAD, mas foi para o “galheiro”, porque, nessa mesma altura, passei a trabalhar em full-time na rádio. Em 2015, dei uma alegria à minha mãe, voltei a estudar, e tirei a licenciatura em Gestão do Lazer e Animação Turística na ESHTE. Comecei aos 33 anos, e até tirei boas notas. Entretanto, faço já 20 anos de rádio em setembro. Nem gosto de fazer estas contas, sinto-me velho (risos). Mas o que gostava mesmo era de cantar. Quem sabe, poderá acontecer um dia.
STAR – Houve alguém que lhe tenha servido de referência, na altura que decidiu enveredar por uma carreira nos Media?
DF – Como disse, a rádio surgiu um pouco por acaso. Foi ela que me encontrou a mim. Mas, se pensar bem, já ouvia muito o António Sala, porque os meus avós ouviam e também me recordo do “Jogo da Mala”, com ele e com a Olga Cardoso. Sempre tive essa referência e depois fui ganhando as minhas. O Nelson Cunha era referência, enquanto animador. A Sónia Santos também. Sabiam e sabem o que fazem e são referências importantes para o trabalho que desenvolvi na rádio. O João Chaves do Oceano Pacífico também, embora seja um estilo diferente. Achava imensa piada ao Fernando Alvim, quando fazia o “Terminal do Engate”, na Rádio Nova Era. Lá fora, o Ryan Seacrest e o Elvis Duran. Todas estas referências ajudam-nos a construir o nosso próprio estilo. E, já que falámos no Oceano Pacífico, recentemente tive oportunidade de fazer este programa mítico durante uma semana e foi uma responsabilidade enorme, um dos pontos altos da minha carreira na rádio.
STAR – Quando surgiu o gosto pelo futebol na sua vida?
DF – Desde sempre. Tinha dois tios fanáticos por futebol, ferrenhos pelo FC Porto e passava muito tempo com eles. Nos aniversários, as minhas prendas eram, muitas vezes, aqueles pratinhos do FC Porto e coisas desse género. Em 1987, quando o FC Porto foi campeão europeu, lembro-me de todos estarem numa excitação, lembro-me de querer ir com os meus tios festejar para os Aliados. A minha mãe é que não aprovou. Um miúdo de cinco anos ali não era fixe, com certeza que os meus tios não iam festejar da mesma maneira (risos). Lembro-me que, nas paredes dos quartos, eles tinham as fotos que saíam no jornal, emolduradas, com as equipas do FC Porto vencedoras. Já mais velho, andei à caça de autógrafos nos treinos do FC Porto, mas consegui o do Aloísio no McDonald’s do Carrefour em Gaia. Ele foi cinco estrelas, pousou o tabuleiro, deu o autógrafo, e claro, para mim, foi uma emoção muito grande. Via jogos com amigos e lembro-me de algumas aulas de português, as primeiras de segunda-feira, que eram verdadeiras tertúlias sobre futebol (risos). O futebol sempre esteve ligado à minha vida. Há uns anos, surgiu a oportunidade de ser “speaker”. Um amigo, que é “speaker” na FPF, ligou-me a dizer que precisavam de um em Lisboa e passei a ser “speaker” do Estoril Praia (durante 3 anos) e também na FPF, fazendo eventos de futebol em vários escalões, futsal e futebol de praia. Anunciei Portugal como campeão do Mundo de Futebol de Praia, em Espinho, o que foi bastante espetacular.
STAR – E em que ponto entrou a Sport TV nessa história?
DF – Como gosto de futebol e estou sempre a defender o FC Porto, o meu colega da RFM José Coimbra (uma das vozes oficiais da Sport TV), sugeriu o meu nome quando lhe perguntaram se conhecia adeptos do FC Porto em Lisboa. Surgiu depois o convite formal e passei a defender as cores do FC Porto na Sport TV. A partir daí, comecei a ficar ainda mais envolvido com tudo o que seja futebol, sobretudo do FC Porto, porque, a partir desse momento, fiquei com uma responsabilidade acrescida. Uma coisa é defender o clube num grupo de amigos, outra é defender o clube numa televisão vista por milhares de pessoas. Mas é perfeito, primeiro porque já tenho desculpa para a mulher me deixar ver jogos em casa tranquilamente (risos), por ser trabalho, depois porque ainda me pagam para fazer isso.
STAR – Como é o dia-a-dia de um animador de rádio e de que forma consegue conciliar isso com o comentário desportivo?
DF – Em altura de pandemia é diferente, porque passamos mais tempo em casa a pesquisar e a preparar o programa da rádio. As pessoas julgam que são duas ou três horas de programa, dizemos meia dúzia de parvoíces e vamos para casa. Mas não é assim. Temos um trabalho normal, às vezes mais de 8 horas de trabalho. Podem não ser seguidas, mas não conseguimos desligar. Eu não consigo, acho que tenho fobia de perder alguma coisa. Se estiver nas redes sociais e vir algo que se pode aproveitar para o programa, uso isso. Parece diversão para as outras pessoas, mas estou muitas vezes nas redes sociais, à procura de conteúdos para o meu programa. A verdade é que, quando ligamos o microfone, antes de passar uma música, as pessoas vão gostar de saber alguma notícia sobre aquele artista. É preciso estar informado, para lhes dar essa informação. Esse trabalho é grande, até porque é muito fácil encontrar informações na internet, difícil é escolher as que interessam e as que serão apresentadas ao público. Não é só abrir o microfone e dizer as coisas que nos vêm à cabeça, é preciso dar informação de qualidade também. Quando recebemos convidados, por exemplo, é preciso pesquisar informações sobre eles. Hoje é bem mais fácil recolher informações do que era há uns anos, quando não havia internet. Se quiser, por exemplo, falar sobre o que o Justin Timberlake fez, cinco minutos antes de entrar “no ar” posso ir ao Instagram dele ver o que ele anda a fazer. Há 15 ou 20 anos, era preciso esperar que saísse uma notícia sobre ele num jornal, ou revista. No meio disto, e aproveitando que estou atento às notícias que saem na internet, uso ainda algum tempo para pesquisar coisas sobre o meu clube, o que também é importante claro.
STAR – Alguma vez sentiu que a questão do “clubismo” no comentário desportivo teve efeitos no seu quotidiano profissional?
DF – Há sempre quem não perceba e misture as coisas, mas tento sempre separar as águas. Uma coisa é o meu trabalho enquanto locutor de rádio, outra é o meu trabalho enquanto comentador. Sei que por vezes posso não conseguir totalmente, sou humano também tenho as minhas falhas, mas tento sempre. Assumo que ser adepto do FC Porto é uma das características da “persona” que tenho no ar, mas não é por isso que deixo de dar os parabéns a outros clubes quando se justifica. É claro que há quem não perceba e “haters” há em todo o lado, mas nunca tive muitos comentários negativos, nem nunca fui julgado por causa disso. Há um “fair-play” enorme da parte dos ouvintes, a maior parte das pessoas sabe distinguir as coisas, e não há assim tantos fanáticos quanto isso. Podem ser os mais ruidosos, mas não é a maioria das pessoas. Acho que também colhemos o que semeamos. Se formos agressivos e desrespeitosos, recebemos o mesmo de volta. Tento ser o mais correto possível. É preciso ser empático, perceber o lado da outra pessoa e os outros gostos. Por exemplo, não é por termos gostos diferentes na música que nos vamos pegar à batatada. No futebol é igual, basta que haja empatia e compreensão para com o outro. Enquanto comentador também nunca fui contactado por ninguém da estrutura do FC Porto, embora ninguém acredite nisto, nem mesmo alguns amigos (risos). Não há mesmo qualquer condicionante, sou completamente livre, digo o que me apetece e procuro falar da visão que tenho de e para o clube.
STAR – Imaginemos o seguinte cenário. É host de um espaço sobre futebol, em rádio ou TV, e tem a oportunidade de escolher 4 personalidades do futebol. Quais escolheria para bater umas bolas?
DF – Já que posso escolher, serei completamente parcial (risos). Gostava muito de juntar e falar de futebol com Pinto da Costa, Cristiano Ronaldo, José Mourinho e João Pinto. Pinto da Costa por ser o maior presidente do futebol mundial, que já viveu coisas que nenhum de nós imagina e está à frente do FC Porto há imensos anos, com imenso sucesso. Cristiano Ronaldo porque é o Melhor do Mundo e seria interessante pô-lo a falar com o Pinto da Costa na mesma sala. José Mourinho, porque é um dos melhores treinadores de sempre e deu muitas alegrias aos portistas. Tem experiência em diversos campeonatos e em diversas equipas, com altos e baixos. Já passou por tudo e seria muito interessante colocá-lo lá no meio. Por fim, o João Pinto, o eterno capitão do FC Porto, só por ser uma figura espetacular e um jogador mítico do futebol português. Eu ficaria ali a lançar o pânico e eles falariam entre si. Juntávamos estas personagens todas comigo e tínhamos aqui um programa líder de audiências (risos).
STAR – Esta época tem sido atípica, tal como a anterior, em virtude da conjuntura pandémica. Apesar da imprevisibilidade que este fator incute, consegue fazer-nos uma curta análise à performance de cada um dos três “grandes”?
DF – Estou surpreendido com o Sporting. Ninguém pode dizer o contrário, nem mesmo os sportinguistas. Vários pontos de avanço e invicto, ninguém esperaria. Tem aproveitado bem os desaires dos rivais durante o campeonato e o facto de não estar nas competições europeias foi uma ajuda, sobretudo numa altura em que havia jogos regulares na europa. Concentrou-se no campeonato, teve tempo para trabalhar e não esquecer que o Rúben Amorim começou a preparar a equipa meio ano antes dos outros. Além disso, contratou bem, já não foram os tiros nos pés que se verificavam nos outros anos no que diz respeito a jogadores. O treinador soube organizar bem a equipa, retirou toda a pressão dos jogadores e continua a fazê-lo. Muitos são jogadores jovens, não estavam habituados à pressão de discutir um título e, desta maneira, conseguiu protegê-los. A meu ver, o facto de não haver adeptos nos estádios também ajudou os jogadores a estarem mais à vontade. O Benfica entrou um pouco sobranceiro. A estrutura achou que já estava ganho que era um passeio no parque. Não foi, porque os outros também estavam mais fortes e queriam lutar. Desde o desaire na Liga dos Campeões, parecem ter tido dificuldades em encontrar-se e foi difícil equilibrar as peças e pôr a equipa a jogar à maneira do Jesus. O Covid-19 foi mau, mas para todos. O FC Porto apostou muito na Liga dos Campeões, tinha de apostar pelo facto de estar sob o fair-play financeiro da UEFA e de ter outras obrigações. Tinha de passar a fase de grupos e empenhou-se ao máximo nesses jogos. Acho que depois não conseguiu gerir tão bem o esforço e o rendimento dos jogadores nos jogos internos. Houve dois FC Porto, um na Liga NOS e outro na Champions. Ainda assim, o primeiro lugar, sendo difícil, é possível. Creio que as equipas estão no lugar que merecem, pelo que têm feito ao longo do campeonato.
STAR – Em ano de Europeu de Futebol e em jeito de antevisão, como observa o potencial/expectativa que é atribuído à seleção portuguesa e qual o jogador que acha que poderá ser uma revelação na equipa portuguesa?
DF – Somos candidatos porque já ganhámos um e ainda somos os campeões em título. Podemos aspirar ao segundo título europeu, porque a equipa não mudou assim tanto, continua a ter uma boa base e o Melhor do Mundo. Há jogadores que estou curioso para ver. Tirando o Cristiano Ronaldo, que vai querer sempre ganhar e dar tudo, quero ver sobretudo Rúben Dias, Bruno Fernandes, Ruben Neves, que aprecio bastante, e ainda André Silva, que está numa forma espetacular e quero ver como funcionará na frente com o Ronaldo ou com outros. Há tanta qualidade nos jogadores portugueses que deixar alguém de fora é ingrato. Nas laterais, acho que Ricardo Pereira ou Manafá poderiam ser hipótese. Felizmente há imenso por onde escolher. Dor de cabeça para o Fernando Santos, mas é bom ser assim.
STAR – Qual foi o jogador ou jogadores que mais o marcaram e o fizeram apaixonar pelo futebol desde novo? O que o deslumbrava mais?
DF – Fiquei estupefacto com a magia do Madjer. Aquele calcanhar não era uma coisa que se visse todos os dias ou em qualquer jogo, quanto mais num jogo decisivo. Mas, citando Carlos Tê, voar como o Jardel sobre os centrais. O Mário Jardel era fenomenal. Eu era mais puto e acho que todos sonhávamos em jogar como ele um dia. Víamos que o homem deslizava no relvado, marcava golos de qualquer maneira e era incrível. Sempre gostei do Vítor Baía também, porque era um jogador com muita classe e carisma. Quando jogava à bola e ia à baliza, imaginava que era muitas vezes o Baía e defendia da mesma forma. Depois o Deco. Vê-lo jogar e com a bola nos pés até parecia batota. Era quase como ser mestre no FIFA e jogar no “easy mode” com um jogador que era “hard” (risos). Era demasiado bom.