Agosto 2020 | Por: Nuno Aguiar-Branco & Tiago F. Silva
A sua voz ecoa pelo Dragão a cada jogo do FC Porto. Por entre todas as outras, é a dele uma das mais audíveis e aquela que todos se habituaram a ouvir. Faz da cabine um posto de comando, de onde controla tudo o que se passa, tanto no relvado como nas bancadas. O espetáculo não seria o mesmo sem ele. Eis José Luís Branco, speaker do Estádio do Dragão, em conversa com a STAR sobre a importância do fan engagement e sobre a forma como ele é feito (ou não) no futebol português.
STAR – Para quem não está muito familiarizado, quais são as “skills” comunicacionais necessárias para ser speaker e a que obriga essa posição, sobretudo num clube de grande dimensão como o FC Porto?
José Branco – Acima de tudo tem de se ter uma boa voz, cativante e simpática, com a qual as pessoas se identifiquem, para se criar logo um engagement, uma relação, para que não seja apenas uma pessoa que está para ali a falar, mas sim uma extensão delas. Depois é preciso ter uma comunicação clara e concisa, em português e inglês, até porque o FC Porto é um clube internacional e tem de se ter em conta as competições internas e internacionais. A comunicação é falar para o adepto, mas também comandá-lo, dirigi-lo e interagir com ele, motivá-lo. É uma comunicação bastante ampla, com muitas variáveis, e como speaker há que ter uma capacidade de comunicar muito bem com eles, saber qual o timing e a palavra certa, porque as palavras têm muita força. É preciso encontrar a palavra certa para cada momento, porque o futebol é o momento. Podemos estar a perder aos 89 minutos e aos 92 virararmos, o que obriga a mudar o raciocínio. Se calhar pensávamos que já não íamos conseguir e depois muda, pelo que a comunicação também muda. Obriga a estar muito atualizado, atento ao que se passa, mas ter uma grande capacidade de adaptação. Mas, acima de tudo, é preciso ter uma boa voz, uma comunicação curta e clara e muito respeito por todos os adeptos. Comecei ainda nas Antas, quando o speaker era ainda um ofício algo amador. Tivemos de criar rapidamente um formato, um livro de estilo, uma linha de trabalho. Depois foi preciso ver as coisas passo a passo, saber se eram os passos corretos ou se era preciso reverter. Num estádio cheio, temos de ter sempre presente a capacidade de interpretar o que se passa à nossa volta, trabalhar em equipa, levar o trabalho a bom porto e sair com a sensação de missão cumprida.
STAR – Existe algum trabalho de preparação juntamente com os órgãos de chefia e comunicação do clube, uma estratégia delineada, ou o clube confia no seu bom senso, dando-lhe autonomia no seu campo de ação?
JLB – As duas coisas. Existe sempre um alinhamento, para sabermos o que vai acontecer e estarmos todos alinhados. Mas também existe algum espaço de manobra. Controlo o trabalho de speaker e de DJ, mas há outras áreas em que dou apoio também. Há um alinhamento que é para cumprir, mas se surgir uma situação em que sintamos que podemos acrescentar valor, existe essa janela de oportunidade.
STAR – Em alguns países, como por exemplo nos EUA com a NBA, o speaker tem um papel determinante no desenrolar do espetáculo desportivo, ao promover a ligação entre os presentes. Sente que em Portugal e no futebol em concreto ainda é visto como algo acessório?
JLB – Acho que já foi mais. O basquetebol e o futebol têm particularidades diferentes. No basquetebol, o speaker pode intervir dentro do jogo, no futebol, durante o jogo, só pode participar com as substituições e nos golos. De vez em quando, no intervalo dos golos, pode mandar uma palavra de incentivo aos adeptos, mas durante o jogo não pode intervir. Isso muda tudo. O nosso papel é importante antes do jogo, também na substituição, na maneira como o dizemos até para o jogador que sai e entra, para criar interação com o público. Mas são mais nesses momentos, enquanto que na NBA pode intervir do primeiro ao último segundo. O futebol é mais conservador nessa área.
STAR – O papel de um speaker parece ser mais relevante hoje do que era antigamente. Faz sentido aprofundar ainda mais a relação com o adepto?
JLB – Acho que é possível, ainda que seja necessário respeitar as normas. Mas há uma aproximação. Através das redes sociais, as pessoas começam a querer saber como funciona. Percebem que há uma voz no estádio e, através do audiovisual, começam a querer saber. Acho que há muito caminho que pode ser feito, até no site do clube, onde o speaker começar a ganhar imagem e até uma posição de comunicação com os adeptos. Ainda não é algo equacionado para ser feito no imediato, mas, com a velocidade em que o mundo anda, com a impulsão da imagem e do protagonismo nas redes sociais, acho que é uma questão de tempo. Há um speaker do Nápoles que vai ao encontro do raciocínio desta pergunta. Penso que seja possível fazer, até com um live do jogo, ter uma câmara a filmar, seja numa comunicação, substituição, num gritar de um golo ou numa substituição na equipa. Acho que é um caminho que deve ser feito, de forma segura e tranquila. Importa perceber a reação das pessoas também, porque, de repente, deixo de estar no meu mundo, de ser uma voz, com uma folha a ler e a falar bem, para ter uma câmara a olhar para mim. É diferente, já terá de haver uma produção, porque passamos a ser uma espécie de apresentador, não só para quem está no estádio, mas também para quem está em casa. Seria preciso ver em que moldes isso poderia ser feito, mas sempre a respeitar também os princípios do clube. E no futebol há uma coisa: quando a equipa ganha é tudo mais fácil, quando não ganha…sobretudo aqui no sul da Europa, o futebol é liberal quando a equipa está a ganhar, mas se não estiver a ganhar é mais conservador, os adeptos são muito exigentes, como os do FC Porto, que exigem o máximo e ainda bem. Eu adoraria, espero que se abra essa porta daqui para a frente e adoraria fazer parte desse projeto, porque acho que poderia acrescentar valor. É uma porta entreaberta que, para já, está mais fechada do que aberta, mas acho que é uma questão de pouco tempo.
STAR – Qual a proximidade e a abordagem feita pelas marcas no sentido de publicitar um produto ou serviço no decorrer de um jogo?
JLB – Normalmente passa tudo pelo clube e pelos seus canais. Nessa perspetiva, os speakers prestam esses serviços sob a batuta do clube. Antes de poder chegar ao speaker, tem de transitar primeiro para os respetivos departamentos do clube.
STAR – Desconstruindo por momentos o rigor e a seriedade do seu cargo, tem alguma história engraçada enquanto speaker e que possa contar?
JLB – Existiriam várias. Mas no caso, o golo do Kelvin, que é um momento histórico no FC Porto (no 2-1 ante o Benfica). Quando é golo, temos um trecho musical que lançamos, atualmente é o do Kungs vs Cookin’ on 3 burners, o “This Girl”. Mas na altura não era. Há o golo, faço o enter para a música entrar, mas com a loucura que ficou na cabine, há um colega que bate na mesa, o computador levanta e desliga a ficha do comando. Era um MacBook comprado há pouco tempo. Então, estou também a ver o computador ir pelo ar. Estamos ali no momento de um golo, um golo que se percebe que é um momento de viragem, de um campeonato que parecia difícil de alcançar, mas estava com aquela preocupação de apanhar o computador para ele não partir, porque ia ficar sem música para o que aconteceria a seguir. O computador caiu ao chão, mas continuou a funcionar. Já nem meti a música. É um dos momentos que guardo e que me marca. Outra memória foi uma vitória sobre o Benfica também (5-0 no Dragão), com a “Canção do Beijinho”, do Herman José, o “ora dá cá um, a seguir dá outro”. Ainda há pouco tempo, uma amiga minha estava a rever esse jogo e colocou uma história no Instagram a dizer “ó José, olha a música do quarto golo”. São histórias engraçadas, dois exemplos com o Benfica, embora não queira de todo hostilizar os adeptos do Benfica ou de quem quer que seja. Mas são momentos que ganham outra dimensão. São sem dúvida os best-sellers.
STAR – De onde surgiu a ideia de colocar a música dos Kungs? Será difícil virar esse disco?
JLB – Foi uma música que ganhou raízes e vem tendo um grande impacto até a nível internacional, como já tinha antes. Lembro-me que a primeira de todas foi o “I Will Survive”, a versão dos Hermes House Band, que vem em 1998, quando a França ganhou o Mundial. Estava a começar, lembro-me de estar no estádio e todos perguntarem-me o que era aquilo que se ouvia. Tinha sido um amigo meu, Filipe Garcia, que trouxe aquilo de uma discoteca de Paris. Era um CD gravado, sem rótulo, nem fazia ideia do que era, mas sei que a música era brutal. Esta do Kungs, o João Vítor, um dos responsáveis do marketing, numa noite de insónias, não sei, ouviu num canal de música e gostou, então trouxe e perguntou-me o que eu achava. Eu gostei, sobretudo daquela parte específica da música. Mas sempre tivemos este estilo eletrónico no Dragão, o “Levels” do Aviici, temas do Dimitri Vegas & Like Mike, o “One More Time” dos Daft Punk, sempre usámos partes da música a explodir muito fortes. Esta entrou e teve um impacto tremendo. Um dia vamos ter de mudar. Também tínhamos o “Filhos do Dragão” antes, mas esta, como entra no momento do golo, ganha uma dimensão completamente diferente. Extrapolou em muito as nossas expectativas. Hoje, associa-se logo ao FC Porto.
STAR – Qual a sensação de marcar presença num momento sem igual na história do clube, sendo a voz que ecoou o FC Porto campeão num estádio vazio?
JLB – A sensação é sempre boa. É óbvio que, sem adeptos, perde parte da sua essência, mas estavam ali os jogadores e a equipa técnica. Eles sofreram muito esta época, com a paragem devido à pandemia e à época mais longa de sempre, cheia de incerteza. O importante foi o foco, o meu foco estava ali, sabendo que milhares de pessoas estavam a acompanhar. Não tínhamos os adeptos, mas fiquei e ficámos muito satisfeitos ainda assim, foi um momento maravilhoso. O futebol sem adeptos perde a sua essência, mas temos de saber adaptar-nos. Preferia com o estádio cheio, naturalmente. Num estádio vazio, quando falamos, mesmo o som é diferente, não se vê as pessoas a absorver o som. Fazer de speaker num estádio vazio quase parece um ensaio, porque as palavras são levadas pelo vento, mas tem de haver um mindset focado em quem está ali. Qualquer speaker de qualquer clube do mundo diria isto. Está lá uma série de pessoas ligadas ao espetáculo, que têm de estar ali e temos de comunicar com elas. Há que ter o mesmo foco, a mesma responsabilidade e o mesmo compromisso, sempre ligado ao jogo. Não há adeptos, mas há lá pessoas na mesma. Até na TV e no rádio, também nos fazemos ouvir para quem esteja em casa. Há que trabalhar com o mesmo foco, rigor e raça.
A sua voz ecoa pelo Dragão a cada jogo do FC Porto. Por entre todas as outras, é a dele uma das mais audíveis e aquela que todos se habituaram a ouvir. Faz da cabine um posto de comando, de onde controla tudo o que se passa, tanto no relvado como nas bancadas. O espetáculo não seria o mesmo sem ele. Eis José Luís Branco, speaker do Estádio do Dragão, em conversa com a STAR sobre a importância do fan engagement e sobre a forma como ele é feito (ou não) no futebol português.
STAR – Para quem não está muito familiarizado, quais são as “skills” comunicacionais necessárias para ser speaker e a que obriga essa posição, sobretudo num clube de grande dimensão como o FC Porto?
José Branco – Acima de tudo tem de se ter uma boa voz, cativante e simpática, com a qual as pessoas se identifiquem, para se criar logo um engagement, uma relação, para que não seja apenas uma pessoa que está para ali a falar, mas sim uma extensão delas. Depois é preciso ter uma comunicação clara e concisa, em português e inglês, até porque o FC Porto é um clube internacional e tem de se ter em conta as competições internas e internacionais. A comunicação é falar para o adepto, mas também comandá-lo, dirigi-lo e interagir com ele, motivá-lo. É uma comunicação bastante ampla, com muitas variáveis, e como speaker há que ter uma capacidade de comunicar muito bem com eles, saber qual o timing e a palavra certa, porque as palavras têm muita força. É preciso encontrar a palavra certa para cada momento, porque o futebol é o momento. Podemos estar a perder aos 89 minutos e aos 92 virararmos, o que obriga a mudar o raciocínio. Se calhar pensávamos que já não íamos conseguir e depois muda, pelo que a comunicação também muda. Obriga a estar muito atualizado, atento ao que se passa, mas ter uma grande capacidade de adaptação. Mas, acima de tudo, é preciso ter uma boa voz, uma comunicação curta e clara e muito respeito por todos os adeptos. Comecei ainda nas Antas, quando o speaker era ainda um ofício algo amador. Tivemos de criar rapidamente um formato, um livro de estilo, uma linha de trabalho. Depois foi preciso ver as coisas passo a passo, saber se eram os passos corretos ou se era preciso reverter. Num estádio cheio, temos de ter sempre presente a capacidade de interpretar o que se passa à nossa volta, trabalhar em equipa, levar o trabalho a bom porto e sair com a sensação de missão cumprida.
STAR – Existe algum trabalho de preparação juntamente com os órgãos de chefia e comunicação do clube, uma estratégia delineada, ou o clube confia no seu bom senso, dando-lhe autonomia no seu campo de ação?
JLB – As duas coisas. Existe sempre um alinhamento, para sabermos o que vai acontecer e estarmos todos alinhados. Mas também existe algum espaço de manobra. Controlo o trabalho de speaker e de DJ, mas há outras áreas em que dou apoio também. Há um alinhamento que é para cumprir, mas se surgir uma situação em que sintamos que podemos acrescentar valor, existe essa janela de oportunidade.
STAR – Em alguns países, como por exemplo nos EUA com a NBA, o speaker tem um papel determinante no desenrolar do espetáculo desportivo, ao promover a ligação entre os presentes. Sente que em Portugal e no futebol em concreto ainda é visto como algo acessório?
JLB – Acho que já foi mais. O basquetebol e o futebol têm particularidades diferentes. No basquetebol, o speaker pode intervir dentro do jogo, no futebol, durante o jogo, só pode participar com as substituições e nos golos. De vez em quando, no intervalo dos golos, pode mandar uma palavra de incentivo aos adeptos, mas durante o jogo não pode intervir. Isso muda tudo. O nosso papel é importante antes do jogo, também na substituição, na maneira como o dizemos até para o jogador que sai e entra, para criar interação com o público. Mas são mais nesses momentos, enquanto que na NBA pode intervir do primeiro ao último segundo. O futebol é mais conservador nessa área.
STAR – O papel de um speaker parece ser mais relevante hoje do que era antigamente. Faz sentido aprofundar ainda mais a relação com o adepto?
JLB – Acho que é possível, ainda que seja necessário respeitar as normas. Mas há uma aproximação. Através das redes sociais, as pessoas começam a querer saber como funciona. Percebem que há uma voz no estádio e, através do audiovisual, começam a querer saber. Acho que há muito caminho que pode ser feito, até no site do clube, onde o speaker começar a ganhar imagem e até uma posição de comunicação com os adeptos. Ainda não é algo equacionado para ser feito no imediato, mas, com a velocidade em que o mundo anda, com a impulsão da imagem e do protagonismo nas redes sociais, acho que é uma questão de tempo. Há um speaker do Nápoles que vai ao encontro do raciocínio desta pergunta. Penso que seja possível fazer, até com um live do jogo, ter uma câmara a filmar, seja numa comunicação, substituição, num gritar de um golo ou numa substituição na equipa. Acho que é um caminho que deve ser feito, de forma segura e tranquila. Importa perceber a reação das pessoas também, porque, de repente, deixo de estar no meu mundo, de ser uma voz, com uma folha a ler e a falar bem, para ter uma câmara a olhar para mim. É diferente, já terá de haver uma produção, porque passamos a ser uma espécie de apresentador, não só para quem está no estádio, mas também para quem está em casa. Seria preciso ver em que moldes isso poderia ser feito, mas sempre a respeitar também os princípios do clube. E no futebol há uma coisa: quando a equipa ganha é tudo mais fácil, quando não ganha…sobretudo aqui no sul da Europa, o futebol é liberal quando a equipa está a ganhar, mas se não estiver a ganhar é mais conservador, os adeptos são muito exigentes, como os do FC Porto, que exigem o máximo e ainda bem. Eu adoraria, espero que se abra essa porta daqui para a frente e adoraria fazer parte desse projeto, porque acho que poderia acrescentar valor. É uma porta entreaberta que, para já, está mais fechada do que aberta, mas acho que é uma questão de pouco tempo.
STAR – Qual a proximidade e a abordagem feita pelas marcas no sentido de publicitar um produto ou serviço no decorrer de um jogo?
JLB – Normalmente passa tudo pelo clube e pelos seus canais. Nessa perspetiva, os speakers prestam esses serviços sob a batuta do clube. Antes de poder chegar ao speaker, tem de transitar primeiro para os respetivos departamentos do clube.
STAR – Desconstruindo por momentos o rigor e a seriedade do seu cargo, tem alguma história engraçada enquanto speaker e que possa contar?
JLB – Existiriam várias. Mas no caso, o golo do Kelvin, que é um momento histórico no FC Porto (no 2-1 ante o Benfica). Quando é golo, temos um trecho musical que lançamos, atualmente é o do Kungs vs Cookin’ on 3 burners, o “This Girl”. Mas na altura não era. Há o golo, faço o enter para a música entrar, mas com a loucura que ficou na cabine, há um colega que bate na mesa, o computador levanta e desliga a ficha do comando. Era um MacBook comprado há pouco tempo. Então, estou também a ver o computador ir pelo ar. Estamos ali no momento de um golo, um golo que se percebe que é um momento de viragem, de um campeonato que parecia difícil de alcançar, mas estava com aquela preocupação de apanhar o computador para ele não partir, porque ia ficar sem música para o que aconteceria a seguir. O computador caiu ao chão, mas continuou a funcionar. Já nem meti a música. É um dos momentos que guardo e que me marca. Outra memória foi uma vitória sobre o Benfica também (5-0 no Dragão), com a “Canção do Beijinho”, do Herman José, o “ora dá cá um, a seguir dá outro”. Ainda há pouco tempo, uma amiga minha estava a rever esse jogo e colocou uma história no Instagram a dizer “ó José, olha a música do quarto golo”. São histórias engraçadas, dois exemplos com o Benfica, embora não queira de todo hostilizar os adeptos do Benfica ou de quem quer que seja. Mas são momentos que ganham outra dimensão. São sem dúvida os best-sellers.
STAR – De onde surgiu a ideia de colocar a música dos Kungs? Será difícil virar esse disco?
JLB – Foi uma música que ganhou raízes e vem tendo um grande impacto até a nível internacional, como já tinha antes. Lembro-me que a primeira de todas foi o “I Will Survive”, a versão dos Hermes House Band, que vem em 1998, quando a França ganhou o Mundial. Estava a começar, lembro-me de estar no estádio e todos perguntarem-me o que era aquilo que se ouvia. Tinha sido um amigo meu, Filipe Garcia, que trouxe aquilo de uma discoteca de Paris. Era um CD gravado, sem rótulo, nem fazia ideia do que era, mas sei que a música era brutal. Esta do Kungs, o João Vítor, um dos responsáveis do marketing, numa noite de insónias, não sei, ouviu num canal de música e gostou, então trouxe e perguntou-me o que eu achava. Eu gostei, sobretudo daquela parte específica da música. Mas sempre tivemos este estilo eletrónico no Dragão, o “Levels” do Aviici, temas do Dimitri Vegas & Like Mike, o “One More Time” dos Daft Punk, sempre usámos partes da música a explodir muito fortes. Esta entrou e teve um impacto tremendo. Um dia vamos ter de mudar. Também tínhamos o “Filhos do Dragão” antes, mas esta, como entra no momento do golo, ganha uma dimensão completamente diferente. Extrapolou em muito as nossas expectativas. Hoje, associa-se logo ao FC Porto.
STAR – Qual a sensação de marcar presença num momento sem igual na história do clube, sendo a voz que ecoou o FC Porto campeão num estádio vazio?
JLB – A sensação é sempre boa. É óbvio que, sem adeptos, perde parte da sua essência, mas estavam ali os jogadores e a equipa técnica. Eles sofreram muito esta época, com a paragem devido à pandemia e à época mais longa de sempre, cheia de incerteza. O importante foi o foco, o meu foco estava ali, sabendo que milhares de pessoas estavam a acompanhar. Não tínhamos os adeptos, mas fiquei e ficámos muito satisfeitos ainda assim, foi um momento maravilhoso. O futebol sem adeptos perde a sua essência, mas temos de saber adaptar-nos. Preferia com o estádio cheio, naturalmente. Num estádio vazio, quando falamos, mesmo o som é diferente, não se vê as pessoas a absorver o som. Fazer de speaker num estádio vazio quase parece um ensaio, porque as palavras são levadas pelo vento, mas tem de haver um mindset focado em quem está ali. Qualquer speaker de qualquer clube do mundo diria isto. Está lá uma série de pessoas ligadas ao espetáculo, que têm de estar ali e temos de comunicar com elas. Há que ter o mesmo foco, a mesma responsabilidade e o mesmo compromisso, sempre ligado ao jogo. Não há adeptos, mas há lá pessoas na mesma. Até na TV e no rádio, também nos fazemos ouvir para quem esteja em casa. Há que trabalhar com o mesmo foco, rigor e raça.