Tânia Tinoco:

"Uma boa alimentação melhora e prolonga a carreira de um jogador"

Dezembro 2020 | Por: Nuno Aguiar-Branco & Tiago F. Silva

O corpo de um atleta é a sua principal ferramenta de trabalho, como tal, convém estar sempre nas melhores condições para a prática desportiva. Se hoje assistimos a verdadeiras transformações no físico de um atleta, muito se deve à evolução na vertente nutricional. A STAR quis descobrir esse lado menos visível do futebol e juntou à conversa Tânia Tinoco, nutricionista do Vitória Sport Clube. Se somos o que comemos, então descubramos a receita.

 

foto de perfilSTARGostaríamos de começar precisamente por aí. Se somos o que comemos, que diferença pode fazer no dia-a-dia de um atleta o facto de ter uma alimentação mais ou então menos cuidada?

TÂNIA TINOCO – Uma alimentação mais cuidada pode fazer toda a diferença no perfil de um atleta e felizmente cada vez mais têm consciência disso e preocupam-se em melhorar os hábitos deles. A alimentação pode melhorar a recuperação do atleta, tanto no treino como após o jogo, porque é fundamental ter logo um bom aporte de nutrientes para que a recuperação seja eficaz e o atleta esteja logo a 100% para o jogo seguinte. Ajuda também na melhoria do rendimento, prolongando a carreira do atleta. Pode ajudar ainda no processo de recuperação da lesão, que é a parte que eles menos gostam, mas na qual podemos dar um empurrãozinho. O que é sempre mais importante frisar junto do atleta é a melhoria do rendimento desportivo, porque aí trazemo-lo mais para o nosso lado e conseguimos fazê-lo mudar alguns dos seus hábitos, porque todos querem jogar o máximo de tempo possível.

 

STARA nutrição talvez tenha sido uma das vertentes que registou maior evolução nos últimos anos. Na sua opinião, qual foi a mudança mais decisiva? A consciencialização? A suplementação?

T.T. – A mudança mais decisiva foi a de os clubes começarem a introduzir o nutricionista na equipa médica. Falando com os mais antigos, todos diziam que a nutricionista era corrida à pedrada do clube (risos). Era completamente impossível incutir alguns hábitos alimentares que hoje têm. Era frequente chegar a um estágio e ter uma garrafa de vinho na mesa (risos). Portanto, a consciencialização foi importante. Hoje, as pessoas estão mais conscientes da importância de uma boa alimentação. A isso, soma-se também o crescimento muito grande da indústria da suplementação, o que abriu uma porta para os nutricionistas, porque é uma área na qual o nutricionista está mais familiarizado. Se o clube tem suplementação, então quem vai tratar disso? Foi isso que implicou. Podiam ser os médicos a fazer isso, mas já têm muito para fazer e não é a área de especialização deles. Então sim, a indústria da suplementação permitiu ao nutricionista ganhar espaço num clube também.

 

STAR – Quais as tarefas que estão reservadas ao nutricionista de um clube de futebol?

T.T. – Muitos acham que só lá vamos fazer as ementas (risos), mas há sempre muito trabalho para fazer no Vitória, todos os dias. Para além das ementas diárias, cabe-nos avaliar os atletas todos, na avaliação tropométrica, e isso ainda demora tempo, porque o clube tem muitos atletas. Há casos particulares de atletas que precisam de perder peso ou ganhar massa muscular. Esses exigem um acompanhamento mais próximo e individualizado. Se conseguirmos fazer esse acompanhamento, mais fácil é atingir os objetivos. Além disso, há a suplementação que é necessária preparar diariamente de forma individualizada. Um atleta que não gosta de determinado sabor, irá ter outro. Se for preciso, no dia seguinte, pede para variar novamente. São feitos batidos diários, com proteína e outros, e com doses adequadas para os objetivos de cada um. É muito importante individualizar sempre. O trabalho é muito vasto, há trabalho para todos os dias e ainda fica com tempo contado e limitado.

 

STAR – No seio da estrutura de um clube, a quem reporta normalmente? À equipa técnica? À equipa médica?

T.T. – Depende muito da situação. Tudo passa pela equipa médica, até porque temos reunião periódicas, em que a informação fica toda com a equipa médica. No dia-a-dia, se há alguma situação em particular que tenha de ser passada à equipa técnica, também o faço, mas com o conhecimento posterior da equipa médica. Não há uma obrigatoriedade de passar tudo à equipa médica e, só daí, para a técnica. Existe abertura nesse sentido.

 

STAR – Quais os alimentos essenciais, que não podem faltar na cozinha de um atleta, e quais os proibidos?

T.T. – Um ex-atleta do Vitória, de muitos anos, dizia sempre aos mais novos que chegavam: “não leves a Tânia a casa, porque vai por a tua esposa a arrumar os armários e tudo o que é bom vai para o lixo” (risos). Não gosto de falar em alimentos proibidos, até porque o fruto proibido é o mais apetecido. Gosto mais de educar os atletas a comerem os alimentos menos bons em alturas em que não vai afetar o jogo, nem os treinos mais importantes. Por exemplo, num dia de folga poderá comer um pouco mais à vontade. Mas gostava de alertar para a importância dos hidratos de carbono para um futebolista. Hoje, há uma grande aversão aos hidratos de carbono, como o arroz, a massa e a batata. Acham que por comer estes hidratos vão engordar e não vão ter o melhor rendimento. É importante educá-los neste sentido. O problema não está nos hidratos de carbono, mas sim no tipo de hidratos que comemos. Batatas fritas, bolachas com chocolate, esse tipo de hidratos é que fazem mal e devemos evitar ter em casa. Além dos bons hidratos, é importante ter fruta e legumes, fontes de vitaminas e minerais, iogurtes dos mais magros, frutos secos também são boa opção e, claro, a carne e o peixe. Os que se devem mesmo evitar são os açucarados, os chocolates, os bolos, os refrigerantes.

 

STAR – O consumo desse tipo de alimentos tem impacto imediato no rendimento?

T.T. Não é imediato, é a longo prazo. O atleta que queira prolongar a carreira, terá de olhar para os pormenores todos. Se neste momento consome em excesso esse tipo de alimentos, sabemos que terá uma carreira mais curta, porque não terá o mesmo tipo de rendimento numa idade mais avançada no futebol. É muito importante levar os jogadores para esta realidade, porque todos querem acabar a carreira o mais tarde possível, mas, se calhar, aos 32 ou 33 anos, as perninhas já não vão conseguir. Aí, eles conseguem cair mais na realidade.

 

STAR – Um plano alimentar pode variar de país para país, mediante a gastronomia local, ou existe uma espécie de padronização geral para atletas?

T.T. – Existem as recomendações em termos de macronutrientes, ou seja, hidratos de carbono, proteínas e gordura. Importante é respeitar sempre as ideologias e as religiões dos atletas. Se ele não pode comer carne de porco, não posso colocá-lo a comer isso, até porque há outras coisas que ele pode comer. Temos de nos adaptar à cultura de cada um. Por exemplo, os atletas que cumprem o período do Ramadão são o maior desafio para o nutricionista.

 

STAR – Calculamos que haja um tipo de acompanhamento mais personalizado. De que forma são geridos esses processos individualizados?

T.T. Eu estou com a equipa profissional e outros têm os “B”, os sub-23, o futebol formação. Era humanamente impossível para uma pessoa apenas. No capítulo da nutrição, temos um modelo padrão de trabalho. O que faço na equipa “A” é replicado nas restantes equipas. A preparação, a suplementação, tudo é feito da mesma forma, mas por pessoas diferentes.

 

STAR – Existe algum “role model” em termos de boas práticas alimentares, no panorama atual de atletas profissionais?

T.T. – Em todas as palestras que dou, não posso deixar de falar do Cristiano Ronaldo. É um exemplo a seguir, no treino e na alimentação. É muito rigoroso com a alimentação, com o descanso, com o treino. Nota-se a diferença e ajuda a explicar o porquê de se manter a bom nível, apesar da idade avançada.

 

STAR – É sabido que a mente exerce influência sobre a disciplina alimentar. Existe trabalho psicológico nesse aspeto, da parte do nutricionista, porventura em coordenação com algum profissional da área?

T.T.Há determinados casos em que o problema com a alimentação é mesmo psicológico, então nesses casos têm de ser reencaminhados para um profissional da psicologia. Mas, no ano passado, tivemos uma experiência muito engraçada com a equipa profissional do Vitória. Levámos os jogadores e as esposas para a cozinha, porque tenho uma cozinha onde dou workshops. Dividimos a equipa em quatro grupos e foram eles que prepararam as receitas que eu coloquei. Quando chegaram, viram muitos legumes em cima da mesa e os da velha guarda disseram logo: “oh, ainda bem que o McDonald’s é aqui ao lado” (risos). No final, todos gostaram, talvez por terem sido eles a fazer. Ensinámo-los a cozinhar de forma saudável e divertida, então funcionou muito bem. Os olhos também comem e mostrámos que, para ser saudável, não é preciso a seca de comer peixe ou brócolos cozidos. Podemos fazer coisas variadas e igualmente saborosas. Eles até tiveram pena de não repetir este ano, devido à pandemia.

 

STAR Tem ideia de qual ou quais os erros alimentares mais cometidos pelos jogadores?

T.T. A fast-food ainda é um erro muito grande. Neste momento já os tentamos educar para comer esses alimentos numa altura em que fazem menos mal. Mas há uma coisa que me incomoda. A hidratação é uma das coisas em que os atletas mais falham e temos de estar constantemente a relembrar para ter uma garrafa de água ao lado. Eles no treino até bebem, porque ela está lá, só que depois chegam a casa, vão para o sofá e esquecem-se. Estamos sempre a relembrar a importância da hidratação.

 

STAR – Às vezes ouvimos histórias de jogadores que tinham determinadas rotinas alimentares invulgares. Qual ou quais os casos mais insólitos de que tem memória?

T.T.Nunca apanhei um atleta com rotinas invulgares, mas um treinador contou-me que tinha um jogador incapaz de render em campo sem antes ter bebido um copo de whisky. Era melhor com o copo de whisky do que sem ele, porque, caso contrário, era como se estivesse a jogar com dez (risos). Às vezes, quando vinham jogadores mais novos, os mais velhos pediam para encher o copo deles com vinho, sabendo que eles não queriam, então bebiam os deles e os dos outros (risos). Para mim, era completamente impossível. Mas agora a mentalidade também é outra. Ainda assim, se for para o bem do grupo, uma cerveja não é problema, sobretudo se for para comemorar algo (risos).

 

STAR Onde podemos seguir o seu trabalho? Que projetos tem atualmente?

T.T. – Além do trabalho como nutricionista da equipa “A” do Vitória, tenho também uma clínica em Guimarães, dividida em três áreas: o gabinete, onde dou as consultas de nutrição; a cozinha, onde dou workshops e formação de cozinha saudável; a loja, onde vendo produtos mais direcionados para a área desportiva e saudável.

O corpo de um atleta é a sua principal ferramenta de trabalho, como tal, convém estar sempre nas melhores condições para a prática desportiva. Se hoje assistimos a verdadeiras transformações no físico de um atleta, muito se deve à evolução na vertente nutricional. A STAR quis descobrir esse lado menos visível do futebol e juntou à conversa Tânia Tinoco, nutricionista do Vitória Sport Clube. Se somos o que comemos, então descubramos a receita.

 

foto de perfilSTARGostaríamos de começar precisamente por aí. Se somos o que comemos, que diferença pode fazer no dia-a-dia de um atleta o facto de ter uma alimentação mais ou então menos cuidada?

TÂNIA TINOCO – Uma alimentação mais cuidada pode fazer toda a diferença no perfil de um atleta e felizmente cada vez mais têm consciência disso e preocupam-se em melhorar os hábitos deles. A alimentação pode melhorar a recuperação do atleta, tanto no treino como após o jogo, porque é fundamental ter logo um bom aporte de nutrientes para que a recuperação seja eficaz e o atleta esteja logo a 100% para o jogo seguinte. Ajuda também na melhoria do rendimento, prolongando a carreira do atleta. Pode ajudar ainda no processo de recuperação da lesão, que é a parte que eles menos gostam, mas na qual podemos dar um empurrãozinho. O que é sempre mais importante frisar junto do atleta é a melhoria do rendimento desportivo, porque aí trazemo-lo mais para o nosso lado e conseguimos fazê-lo mudar alguns dos seus hábitos, porque todos querem jogar o máximo de tempo possível.

 

STARA nutrição talvez tenha sido uma das vertentes que registou maior evolução nos últimos anos. Na sua opinião, qual foi a mudança mais decisiva? A consciencialização? A suplementação?

T.T. – A mudança mais decisiva foi a de os clubes começarem a introduzir o nutricionista na equipa médica. Falando com os mais antigos, todos diziam que a nutricionista era corrida à pedrada do clube (risos). Era completamente impossível incutir alguns hábitos alimentares que hoje têm. Era frequente chegar a um estágio e ter uma garrafa de vinho na mesa (risos). Portanto, a consciencialização foi importante. Hoje, as pessoas estão mais conscientes da importância de uma boa alimentação. A isso, soma-se também o crescimento muito grande da indústria da suplementação, o que abriu uma porta para os nutricionistas, porque é uma área na qual o nutricionista está mais familiarizado. Se o clube tem suplementação, então quem vai tratar disso? Foi isso que implicou. Podiam ser os médicos a fazer isso, mas já têm muito para fazer e não é a área de especialização deles. Então sim, a indústria da suplementação permitiu ao nutricionista ganhar espaço num clube também.

 

STAR – Quais as tarefas que estão reservadas ao nutricionista de um clube de futebol?

T.T. – Muitos acham que só lá vamos fazer as ementas (risos), mas há sempre muito trabalho para fazer no Vitória, todos os dias. Para além das ementas diárias, cabe-nos avaliar os atletas todos, na avaliação tropométrica, e isso ainda demora tempo, porque o clube tem muitos atletas. Há casos particulares de atletas que precisam de perder peso ou ganhar massa muscular. Esses exigem um acompanhamento mais próximo e individualizado. Se conseguirmos fazer esse acompanhamento, mais fácil é atingir os objetivos. Além disso, há a suplementação que é necessária preparar diariamente de forma individualizada. Um atleta que não gosta de determinado sabor, irá ter outro. Se for preciso, no dia seguinte, pede para variar novamente. São feitos batidos diários, com proteína e outros, e com doses adequadas para os objetivos de cada um. É muito importante individualizar sempre. O trabalho é muito vasto, há trabalho para todos os dias e ainda fica com tempo contado e limitado.

 

STAR – No seio da estrutura de um clube, a quem reporta normalmente? À equipa técnica? À equipa médica?

T.T. – Depende muito da situação. Tudo passa pela equipa médica, até porque temos reunião periódicas, em que a informação fica toda com a equipa médica. No dia-a-dia, se há alguma situação em particular que tenha de ser passada à equipa técnica, também o faço, mas com o conhecimento posterior da equipa médica. Não há uma obrigatoriedade de passar tudo à equipa médica e, só daí, para a técnica. Existe abertura nesse sentido.

 

STAR – Quais os alimentos essenciais, que não podem faltar na cozinha de um atleta, e quais os proibidos?

T.T. – Um ex-atleta do Vitória, de muitos anos, dizia sempre aos mais novos que chegavam: “não leves a Tânia a casa, porque vai por a tua esposa a arrumar os armários e tudo o que é bom vai para o lixo” (risos). Não gosto de falar em alimentos proibidos, até porque o fruto proibido é o mais apetecido. Gosto mais de educar os atletas a comerem os alimentos menos bons em alturas em que não vai afetar o jogo, nem os treinos mais importantes. Por exemplo, num dia de folga poderá comer um pouco mais à vontade. Mas gostava de alertar para a importância dos hidratos de carbono para um futebolista. Hoje, há uma grande aversão aos hidratos de carbono, como o arroz, a massa e a batata. Acham que por comer estes hidratos vão engordar e não vão ter o melhor rendimento. É importante educá-los neste sentido. O problema não está nos hidratos de carbono, mas sim no tipo de hidratos que comemos. Batatas fritas, bolachas com chocolate, esse tipo de hidratos é que fazem mal e devemos evitar ter em casa. Além dos bons hidratos, é importante ter fruta e legumes, fontes de vitaminas e minerais, iogurtes dos mais magros, frutos secos também são boa opção e, claro, a carne e o peixe. Os que se devem mesmo evitar são os açucarados, os chocolates, os bolos, os refrigerantes.

 

STAR – O consumo desse tipo de alimentos tem impacto imediato no rendimento?

T.T. Não é imediato, é a longo prazo. O atleta que queira prolongar a carreira, terá de olhar para os pormenores todos. Se neste momento consome em excesso esse tipo de alimentos, sabemos que terá uma carreira mais curta, porque não terá o mesmo tipo de rendimento numa idade mais avançada no futebol. É muito importante levar os jogadores para esta realidade, porque todos querem acabar a carreira o mais tarde possível, mas, se calhar, aos 32 ou 33 anos, as perninhas já não vão conseguir. Aí, eles conseguem cair mais na realidade.

 

STAR – Um plano alimentar pode variar de país para país, mediante a gastronomia local, ou existe uma espécie de padronização geral para atletas?

T.T. – Existem as recomendações em termos de macronutrientes, ou seja, hidratos de carbono, proteínas e gordura. Importante é respeitar sempre as ideologias e as religiões dos atletas. Se ele não pode comer carne de porco, não posso colocá-lo a comer isso, até porque há outras coisas que ele pode comer. Temos de nos adaptar à cultura de cada um. Por exemplo, os atletas que cumprem o período do Ramadão são o maior desafio para o nutricionista.

 

STAR – Calculamos que haja um tipo de acompanhamento mais personalizado. De que forma são geridos esses processos individualizados?

T.T. Eu estou com a equipa profissional e outros têm os “B”, os sub-23, o futebol formação. Era humanamente impossível para uma pessoa apenas. No capítulo da nutrição, temos um modelo padrão de trabalho. O que faço na equipa “A” é replicado nas restantes equipas. A preparação, a suplementação, tudo é feito da mesma forma, mas por pessoas diferentes.

 

STAR – Existe algum “role model” em termos de boas práticas alimentares, no panorama atual de atletas profissionais?

T.T. – Em todas as palestras que dou, não posso deixar de falar do Cristiano Ronaldo. É um exemplo a seguir, no treino e na alimentação. É muito rigoroso com a alimentação, com o descanso, com o treino. Nota-se a diferença e ajuda a explicar o porquê de se manter a bom nível, apesar da idade avançada.

 

STAR – É sabido que a mente exerce influência sobre a disciplina alimentar. Existe trabalho psicológico nesse aspeto, da parte do nutricionista, porventura em coordenação com algum profissional da área?

T.T.Há determinados casos em que o problema com a alimentação é mesmo psicológico, então nesses casos têm de ser reencaminhados para um profissional da psicologia. Mas, no ano passado, tivemos uma experiência muito engraçada com a equipa profissional do Vitória. Levámos os jogadores e as esposas para a cozinha, porque tenho uma cozinha onde dou workshops. Dividimos a equipa em quatro grupos e foram eles que prepararam as receitas que eu coloquei. Quando chegaram, viram muitos legumes em cima da mesa e os da velha guarda disseram logo: “oh, ainda bem que o McDonald’s é aqui ao lado” (risos). No final, todos gostaram, talvez por terem sido eles a fazer. Ensinámo-los a cozinhar de forma saudável e divertida, então funcionou muito bem. Os olhos também comem e mostrámos que, para ser saudável, não é preciso a seca de comer peixe ou brócolos cozidos. Podemos fazer coisas variadas e igualmente saborosas. Eles até tiveram pena de não repetir este ano, devido à pandemia.

 

STAR Tem ideia de qual ou quais os erros alimentares mais cometidos pelos jogadores?

T.T. A fast-food ainda é um erro muito grande. Neste momento já os tentamos educar para comer esses alimentos numa altura em que fazem menos mal. Mas há uma coisa que me incomoda. A hidratação é uma das coisas em que os atletas mais falham e temos de estar constantemente a relembrar para ter uma garrafa de água ao lado. Eles no treino até bebem, porque ela está lá, só que depois chegam a casa, vão para o sofá e esquecem-se. Estamos sempre a relembrar a importância da hidratação.

 

STAR – Às vezes ouvimos histórias de jogadores que tinham determinadas rotinas alimentares invulgares. Qual ou quais os casos mais insólitos de que tem memória?

T.T.Nunca apanhei um atleta com rotinas invulgares, mas um treinador contou-me que tinha um jogador incapaz de render em campo sem antes ter bebido um copo de whisky. Era melhor com o copo de whisky do que sem ele, porque, caso contrário, era como se estivesse a jogar com dez (risos). Às vezes, quando vinham jogadores mais novos, os mais velhos pediam para encher o copo deles com vinho, sabendo que eles não queriam, então bebiam os deles e os dos outros (risos). Para mim, era completamente impossível. Mas agora a mentalidade também é outra. Ainda assim, se for para o bem do grupo, uma cerveja não é problema, sobretudo se for para comemorar algo (risos).

 

STAR Onde podemos seguir o seu trabalho? Que projetos tem atualmente?

T.T. – Além do trabalho como nutricionista da equipa “A” do Vitória, tenho também uma clínica em Guimarães, dividida em três áreas: o gabinete, onde dou as consultas de nutrição; a cozinha, onde dou workshops e formação de cozinha saudável; a loja, onde vendo produtos mais direcionados para a área desportiva e saudável.