Futebol 2.0: quando o adepto decide o início e o fim de um jogo

Julho 2020 | Por: Tiago  F. Silva

Longe vão os tempos em que toda a família se sentava no sofá, em frente ao televisor, para assistir a um jogo de futebol. Ou até mesmo um grupo de amigos se juntava num café e via um jogo, ao mesmo tempo que debatia as incidências deste.

Hoje, todos têm a sua forma de assistir ao mesmo evento, sem necessidade de se concentrarem num único lugar para o fazer, a não ser por uma questão de preferência.

Certo é que os hábitos de consumo mudaram. Como consequência, as transmissões de eventos desportivos aprimoraram-se e a evolução foi natural e incontornável. Aos serviços de TV convencionais somam-se agora outros. Imagine um restaurante com pedidos à carta, em vez do habitual prato do dia. Hoje o paradigma da visualização está a mudar. Cabe ao utilizador decidir o que quer, como quer, quando quer.

O futebol não foge dessa nova alternativa e caminha a passos largos para proporcionar ao espetador uma experiência de consumo personalizada, ao estilo “on demand”, mas em plataformas próprias, fora do típico contexto dos canais televisivos. No fundo, o adepto tem agora um papel mais ativo e poder de escolha sobre a transmissão de um jogo de futebol.

Para o exemplificar, damos conta da nova forma que a Amazon criou para transmitir um jogo de futebol. A gigante norte-americana aproveitou o regresso da Premier League para introduzir uma inovação no broadcasting. Desde 29 de junho que a transmissão de jogos é feita através do Twitch. A plataforma, detida pela Amazon, cingia-se praticamente à transmissão de eventos de videojogos, por permitir uma grande interação entre os utilizadores. É essa valência que a Amazon procura agora replicar na transmissão de um jogo de futebol.

Recorde-se que, desde 2018, a empresa de Jeff Bezos transmite jogos em streaming, após adquirir os direitos de transmissão da Premier League por três anos. Para o efeito era utilizado o Prime Video.

Com o Twitch, o serviço ganha agora uma nova dimensão, ainda que esteja reservado aos residentes no Reino Unido. A maior interação pode atrair um público mais jovem, que compõe o grosso dos utilizadores da plataforma, mas também aqueles que buscam essa interação numa transmissão ao vivo, algo que parecia improvável num jogo de futebol.

Amazon e YouTube: dois tubarões em posição de ataque

A entrada de novos players no mercado dos direitos televisivos é sempre inquietante, ainda para mais quando se trata de dois gigantes de olhos postos no digital. Amazon e YouTube estão a dar os primeiros passos nesse sentido, mas é expectável que possam vir a ganhar um papel mais relevante daqui para a frente.

Em 2018, um pouco à semelhança do que a Amazon fizera com o Prime Video, o YouTube assinou um acordo com o recém-formado Los Angeles FC para garantir exclusividade dos direitos de transmissão daquela equipa da MLS. Além disso, foi ainda capaz de assegurar a exclusividade do patrocínio da camisola, para destacar a “YouTube TV”, plataforma onde são transmitidos os jogos e disponibilizados outros conteúdos relacionados com a equipa.

A exploração desses direitos vai muito além da transmissão de jogos. Na realidade, é possível assistir a conteúdos exclusivos nos canais digitais ou ver e rever conteúdos relacionados com o jogo ou com um jogador em específico. De sublinhar que muitos clubes já fazem uso das suas plataformas digitais para transmissões ao vivo ou publicação de conteúdos, como conferências, reportagens e afins, mas falamos de produtos diferentes, naturalmente.

A entrada destes players vai obrigar a uma reflexão sobre o futuro da indústria do broadcasting, até porque está cada vez mais próximo de proporcionar uma experiência idêntica à de ver o jogo num café com amigos, mas sem sair do sofá. Será interessante ver a resposta dos players convencionais e, acima de tudo, como todos podem preparar a forma como as gerações futuras vão querer consumir futebol.