Liga das Nações: a controversa, mas apetecível competição

Julho 2022 | Por: Tiago F. Silva

Para uns, uma competição que provavelmente diz pouco. Para outros, uma janela de oportunidade e de glória.

A Liga das Nações realiza-se de dois em dois anos, reunindo 55 seleções europeias, divididas em três ligas de 16 e uma quarta de 7.

Veio substituir a maioria dos jogos amigáveis previstos no calendário de jogos da FIFA e serve também de apuramento a quatro das equipas para o Europeu.

Portugal foi pioneiro na conquista do troféu, em 2019, dando o mote para o que se seguiria nos anos vindouros.

Nesta que é a terceira edição da mais recente competição da UEFA, muito está em jogo. Pelo menos, em teoria.

É que, ao contrário das duas primeiras edições, esta Liga das Nações não terá a fase de grupos disputada imediatamente após uma grande competição.

Tudo porque o Mundial 2022, no Qatar, vai disputar-se em pleno inverno na Europa, entre os meses de novembro e dezembro.

Este calendário invulgar obrigou a antecipar a fase de grupos da Liga das Nações, que arrancou em junho e termina em setembro, adiando também o período de descanso dos jogadores participantes na prova.

Ora, é a partir daqui que se verificam algumas opiniões contrárias à existência desta competição intermédia.

 

Sete dias que podem definir um Mundial

Olhando para o cenário em 2022, como se já não bastasse ter um Mundial no inverno, meses antes começa a desenhar-se uma espécie de condicionamento da época para os participantes nesta Liga das Nações.

A maior ameaça prende-se com a própria descrença de alguns jogadores, que têm vindo a público menosprezar, de certa forma, a competição.

Kevin De Bruyne, estrela da Bélgica, por exemplo, foi um dos que não escondeu o desagrado, na antevisão à prova.

“Para mim, a Liga das Nações não é importante. Temos de jogar os jogos, mas são uma espécie de particulares. Todos têm tido uma época muito dura. Estaremos no campo e faremos o que temos de fazer. Sobre o calendário de jogos, temos pouco a dizer. Podemos falar sobre férias ou descanso, mas não temos nada a dizer», referiu o médio, poucos dias após ter cumprido o último jogo da época pelo Manchester City.

Este ano atípico, com o Mundial no inverno, trouxe à tona a questão da gestão física e mental dos atletas. Neste particular, a Liga das Nações levantou também problemas novos, relacionados com a preparação para o Mundial.

Nos últimos tempos, muito se tem falado da eventual redução do prazo de cedência de jogadores às seleções, por parte dos clubes, de 15 para apenas 7 dias antes da prova. A confirmar-se este cenário, por certo, irá condicionar a preparação das seleções em competição. São sete dias que podem definir um Mundial, mesmo antes de ser jogado.

Ainda no capítulo da preparação, há um outro dado inusitado.

Sendo europeu, provavelmente não pensou nisto, mas esta Liga das Nações tem condicionado e muito a agenda de seleções fora do velho continente.

O Brasil, por exemplo, tem encontrado dificuldades para enfrentar seleções europeias em jogos de preparação, desde a criação desta prova. O preenchido calendário das equipas europeias, sobretudo neste ano, tem feito “a canarinha” passar ao lado de uma preparação que outros competidores no Mundial já estão a ter.

Regressemos então ao velho continente.

 

Janela aberta para o futuro

Como já vimos, se a Liga das Nações é um revés para muitos, quer pelo excesso de jogos ou pela inusitada escassez, para outros, apresenta-se como uma janela de oportunidade.

É através desta competição que se joga a antecâmara do Mundial, uma vez que serve de teste importante para as várias seleções qualificadas.

É também aí, que muitos treinadores dão oportunidade a jogadores menos utilizados ou que habitualmente não seriam convocados, avaliando novas possibilidades de construção e gestão da equipa, numa perspetiva de curto-médio prazo.

Apresenta-se então como uma montra importante, tanto para jogadores, como para treinadores, que assim podem desenhar a seleção que se pretende no futuro e as linhas orientadoras que eventualmente a guiarão ao sucesso.

Recordamos as declarações de De Bruyne, para lembrar que, mesmo estando contra a Liga das Nações e o seu formato, nenhum jogador quererá ficar de fora das escolhas. Além da representação nacional e do prestígio, joga-se muito do que poderá ser o amanhã da seleção.

Uma competição controversa, mas apetecível, assim se pode definir esta Liga das Nações.

É legítimo discutir-se a sua existência, os interesses financeiros por trás da sua criação, o seu formato ou até a sua continuidade.

Contudo, há uma certeza. A de que garante a todos os amantes de futebol mais e melhores jogos, numa altura em que já não era expectável isso acontecer.

Em ano de Mundial, podendo ser uma antecâmara para o que aí vem, melhor ainda.