Novembro 2022 | Por: Tiago F. Silva
O Mundial 2022 ainda nem começou e Portugal já está a destacar-se.
A seleção portuguesa chega à competição com o maior número de minutos nas pernas, de acordo com dados recolhidos pelo Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol (Fifpro).
Entre jogos nacionais e internacionais, os portugueses chegam ao Qatar com um acumulado de 30.986 minutos, entre 1 de agosto e 24 de outubro. Tal registo, faz da equipa nacional a mais “rodada” das 32 equipas em competição. Seguem-se as seleções de Brasil (29.128), Alemanha (28.956) e Coreia do Sul, adversária de Portugal no Grupo, com 28.814 minutos.
É interessante perceber que, além de mais minutos nas pernas esta época, os portugueses lideram também no acumulado desde o início da época passada, até ao mesmo dia 24 de outubro, com 135.237 minutos. Seguem-se Brasil (135.078) e México (132.317).
João Cancelo é o segundo jogador no Mundial com mais minutos desde o início da época passada (7.347 minutos em 78 jogos), superado apenas por Virgil van Dijk (7.597 em 78 jogos). O top-5 é composto por jogadores que atuam (ou atuaram até há pouco tempo) na Premier League.
É também esse um ponto de análise importante e que, provavelmente ajuda a entender a maior rodagem acumulada dos jogadores lusos. Dos 26 convocados de Fernando Santos, 10 atuam na Premier League e na Liga dos Campeões, competição onde vários outros também conseguiram percursos longos, no período em consideração.
Estes dados foram publicados num estudo recente, que alertou para os impactos da sobrecarga competitiva na saúde dos jogadores. A discussão faz sentido, sobretudo se pensarmos que, pela primeira vez, um Mundial se disputa em pleno pico da época desportiva.
O apertado calendário de jogos, com pouco intervalo entre eles, em função do arranque do Mundial, obrigou a um esforço por vezes sobre-humano, que deixaram mazelas em muitos dos protagonistas. Basta recordar as várias lesões que se registaram pouco tempo antes da prova.
Podemos também pensar no facto de haver seleções que foram obrigadas a repensar por completo as escolhas para a fase final, ou que optaram por levar jogadores lesionados, na eventualidade de estes poderem vir a recuperar, tal é a preponderância que estes têm.
Tudo isto encontra explicação nos riscos do excesso de competição, aliado ao pouco tempo de descanso. O estudo usa como exemplo Sadio Mané, estrela do Senegal, que se lesionou a 8 de novembro, após 93 jogos realizados desde o início da época transata.
Esta situação tem tendência a agravar-se pelo facto de o Mundial do Qatar jogar-se a meio da época, o que significa menos tempo de preparação após a paragem nos clubes e também de recuperação entre o final da prova e o regresso à competição nas respetivas equipas.
Sublinhe-se que o tempo médio de preparação deste Mundial é de 7 dias e o de recuperação nunca superior a 8. Em 2018, na Rússia, foi de 32 e de 26 dias, respetivamente. Nos anteriores, a média de tempo de preparação e de recuperação foi quase sempre superior a 30 dias.
Perante esta realidade, levantam-se várias questões. E o jogador? Como estará física e mentalmente? De que forma se fará o regresso aos clubes? Que efeitos terá no que resta da época? Fará sentido apostar neste modelo de competição no futuro?
Portugal tem ainda uns dias de preparação pela frente, tendo como objetivo a conquista de um inédito título mundial. Ainda sem jogar, já existe um campeão. Venha daí a melhor parte.