A nova substituição no futebol: a pensar no amanhã do atleta

Janeiro 2021 | Por: Tiago F. Silva

Comecemos por um pequeno enquadramento.

Concussão: síndrome clínica oriunda de um trauma (pancada), em geral na região da cabeça, capaz de alterar as funções do cérebro.

Caso esta palavra não lhe soe familiar, então fique sabendo que a ameaça de concussão no desporto é um assunto para o qual as entidades têm vindo a centrar atenções.

E não é para menos, visto que, estas, podem deixar efeitos na saúde mental e física dos atletas a longo prazo, sobretudo quando sofridas com frequência.

Não é um fenómeno exclusivo dos desportos de contacto, muito embora sejam nestes que residam os casos mais mediáticos.

O futebol americano é o exemplo maior do que estamos a falar. Na NFL, principal competição da modalidade, foram vários os casos de danos cerebrais diagnosticados, devido a repetidas concussões.

Em alguns desses casos, já depois de se retirarem, os atletas viriam a desenvolver problemas de foro mental e físico, o que, não só lhes condicionou a vida futura, como também expôs os possíveis efeitos a longo prazo das concussões.

Os casos foram de tal maneira mediatizados, que obrigaram as entidades responsáveis a adotar o chamado protocolo de concussão, que se estende até hoje, ainda que nem sempre cumprido com o rigor desejado.

Esse protocolo introduziu um conjunto de diretrizes de avaliação de concussão, numa tentativa de detetar melhor concussões durante a prática e nos jogos. Nele, estão incluídos também a definição de concussão, referida inicialmente, e uma lista de sintomas.

Nessa lista, estão sintomas como falta de equilíbrio, agarrar a cabeça após o contacto, confusão, levantar-se lentamente, olhar enevoado ou lesão facial visível combinada com qualquer um dos outros.

Diz então o protocolo que, caso um atleta apresente sintomas claros de possível concussão, este deve ser retirado do jogo e reavaliado.

Caso se trate de uma modalidade que assim o permita, o atleta poderá até reentrar, se comprovado um falso alarme de concussão. Em caso positivo, o atleta ficará afastado da competição até à recuperação total, por forma a evitar o agravamento da situação corrente.

Por esta altura estará a perguntar-se: então e em relação às modalidades que não contemplam substituições ilimitadas, como é o caso do futebol?

Eis então a novidade recente, vinda da FIFA.

 

Substituição por concussão: a decisão que todos agradecem

O assunto já estava sob análise há algum tempo, mas só recentemente é que o organismo maior do futebol se pronunciou.

Em nota publicada no site oficial, a FIFA anunciou que irá testar a chamada substituição por concussão no próximo Mundial de Clubes, a realizar no Qatar, já em fevereiro (de 01 a 11).

No decorrer dos jogos da competição, cujo sorteio será a 19 de janeiro, as equipas poderão efetuar substituições por concussão, se necessário, mesmo que esgotadas as habituais cinco.

Acresce a isto o facto de a FIFA ter anunciado também a implementação de um protocolo de concussão (tal como a NFL ou NBA), que contemplará uma substituição devido a concussão por jogo, independentemente do número de substituições já efetuadas.

De acordo com o organismo, esta decisão visa “mandar uma mensagem forte de que, em caso de dúvida, um jogador deve ser retirado”, ao mesmo tempo que “previne consequências graves ao jogador que possa já ter sofrido uma concussão durante um jogo”.

Para a FIFA, este protocolo ajudará também a “reduzir a pressão no pessoal médico”, visto que “podem fazer uma avaliação rápida e estabelecer um procedimento simples que pode ser aplicado aos vários níveis do jogo”.

Vemos então que, à semelhança do que já acontecia noutros desportos de contacto, também o futebol já está alerta para os perigos das concussões nos jogadores.

Aplaude-se em toda a linha a decisão da FIFA, visto que importa não só garantir o bem-estar dos atletas durante o jogo, como também a saúde mental e física fora dele. E são mais do que óbvios os efeitos negativos que este tipo de traumas pode causar.

Numa altura em que o futebol é cada vez mais um desporto que requer intensidade e capacidade física a alto nível, é bom para o atleta e para a equipas saber que têm disponível esta espécie de plano de emergência.

Por detrás do atleta existe a pessoa, e essa agradece certamente este passo mais que necessário.